Brasília – Cerca de 150 trabalhadores rurais já chegaram a Brasília para participar do acampamento nacional contra o projeto de lei que vai liberar a plantação e a venda de alimentos transgênicos no Brasil. São esperadas 500 pessoas que vão ficar no Camping de Brasília por 34 dias, até 16 de outubro. Nesse período, serão realizadas diversas atividades, como passeatas e debates em escolas, universidades e cidades satélites do Distrito Federal.
A mobilização é uma iniciativa da Via Campesina, que reúne entidades como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Comissão Pastoral da Terra. Elas têm o apoio de outras organizações, como a ambientalista Greenpeace, e de parlamentares, entre eles o deputado federal Adão Pretto (PT-RS).
Segundo o coordenador do acampamento, Adilson Gumieiro, a proposta é esclarecer a população sobre os riscos dos transgênicos para a saúde, para o meio ambiente e para a economia do país. Eles querem exigir também que o governo brasileiro tenha uma postura de precaução antes de qualquer decisão. O projeto de lei sobre o assunto deve ser encaminhado ainda este mês, ao Congresso Nacional, pela Casa Civil.
?Não somos contra as pesquisas, não somos atrasados como falam?, disse Gumieiro. Para ele, é preciso cuidado para evitar a repetição de erros cometidos anteriormente, quando inovações consideradas positivas se revelaram, com o tempo, prejudiciais. Foi assim, por exemplo, com o veneno utilizado para o combate à doença de Chagas que acabou tendo seu uso proibido no país.
No aspecto econômico, o principal problema da liberação dos transgênicos, na avaliação de Gumieiro, é que a técnica é de propriedade da multinacional Monsanto. Por isso, se o país passar a usar essa tecnologia, vai ficar dependente de uma empresa estrangeira. “É uma tecnologia dependente. Que soberania é essa que está se falando? Que avanço que está se falando? Avanço de quem e para quem?”, questiona o coordenador.
Segundo ele, a Monsanto já anunciou a intenção de cobrar US$ 12 por tonelada de soja brasileira exportada, se ficar comprovado que o produto é transgênico. Como muitos dos carregamentos acabam misturando os dois tipos de grãos, essa medida poderia comprometer toda a safra voltada à exportação. Isso representaria um custo adicional de cerca de US$ 600 milhões com o pagamento de royalties à multinacional.
Hoje, a produção de alimentos transgênicos está proibida no país. Os agricultores que violarem essa determinação estarão sujeitos a multa de R$ 16 mil por hectare plantado. Os que tiverem recebido empréstimo também serão obrigados a reembolsar a entidade financiadora. Mesmo assim, muitos produtores estão preferindo plantar a soja transgênica. No Rio Grande do Sul, cerca de 85% da última safra de soja ? 3,5 milhões de hectares ? saíram de plantações com grãos transgênicos, mais resistentes a pragas.
As pesquisas realizadas até hoje não comprovaram a segurança ambiental e da saúde das pessoas. Gumieiro acredita que uma das conseqüências para o meio ambiente pode ser a diminuição da diversidade biológica. Outro efeito pode ser o surgimento de doenças e pragas mais resistentes do que as que existem atualmente, o que exigiria o uso de agrotóxicos mais fortes. ?Nos Estados Unidos, já identificaram cinco plantas daninhas que não são mais afetadas pelo herbicida usado na soja transgênica?, alertou Gumieiro.
Os integrantes da Via Campesina não defendem o uso da soja tradicional, que exige o uso de herbicidas altamente tóxicos, tanto para os seres humanos quanto para a natureza. ?Não achamos que é o caminho mais correto para a natureza. A nossa alternativa é a soja agroecológica. Ela permite uma produção sustentável, sem tanto agrotóxico?, explicou o coordenador.
Amanhã, a Via Campesina vai realizar uma caminhada contra a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A concentração será às 10 horas, em frente ao Palácio do Buriti.