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José Sebastião da Silva jogou fora frutas contaminadas no Ceagesp, ontem.

São Paulo – Toneladas de comida foram jogadas fora na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), responsável pelo abastecimento de 23 estados do País e 60% do Estado de São Paulo. As mercadorias estragadas pela enchente, que deixou os galpões debaixo d’água, estão sendo descartadas pelos atacadistas. São cerca de 5 mil toneladas de frutas, verduras e legumes no lixo.

O prejuízo foi de cerca de R$ 7 milhões apenas com a paralisação das vendas na quarta-feira. Depois do temporal, uma fila de centenas de caminhões se formou diante do entreposto ontem. O preço de alguns produtos já está mais alto. A qualidade, mais baixa. "Todo o produto contaminado está sendo inutilizado e o destino dele é o aterro sanitário", diz Maria Cristina Cury, secretária municipal de Saúde.

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Segundo Maria Cristina, o controle de qualidade dos produtos está sendo feito pela Vigilância Sanitária, mas a população deve usar água sanitária (cândida) diluída para lavar os alimentos e afastar risco de contaminação. Ela explica que o risco agora não é só com os alimentos estragados, mas com os contaminados, que podem passar principalmente leptospirose, que é doença muito grave.

A venda de legumes foi liberada, mas as de frutas dependia da limpeza dos boxes. Sem poder entrar, os comerciantes que costumam vender flores tentaram trabalhar na rua mesmo. Um caminhão que veio da Bahia carregado de beterraba perdeu toda a carga. Motoristas de outros estados, como Rio de Janeiro, foram embora com o caminhão vazio. Muitos feirantes compraram mercadorias dos caminhões parados fora da Ceagesp. O mesmo ocorreu durante a enchente de quarta-feira, pois os fornecedores temiam perder os produtos. Nas feiras de ontem, a diferença de preço e qualidade já foi percebida pelo consumidor. A caixa de alface, antes vendida por R$ 5 a R$ 10, já está a R$ 20 ou R$ 30. A maioria dos feirantes vendeu ontem produto comprado na terça-feira. Na madrugada de ontem, a procura por mercadorias já foi maior do que a oferta. Na avaliação de vendedores, produtos como cenoura, mandioquinha e vagem devem ficar mais caros nos próximos dias. A Ceagesp tenta se recuperar do alagamento nos galpões e boxes. Ainda não é possível calcular o total do prejuízo. A feira de flores que costuma ser feita na madrugada de quinta para sexta-feira deve ser feita, caso a previsão dos técnicos que acompanham a limpeza seja cumprida. Os caminhões que chegaram na manhã de ontem, a maioria com flores, não conseguiram entrar.

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Uma longa fila e um congestionamento se formou na Avenida Gastão Vidigal. Segundo Kita Amorim, coordenador de comunicação da Ceagesp, apenas na quarta-feira 10 mil toneladas de produtos não foram comercializadas. A enchente atingiu 90% dos 650 mil metros quadrados da companhia, que fica na Vila Leopoldina. O armazém está muito próximo do Rio Pinheiros, que transbordou com o temporal.

Os funcionários acreditam que essa tenha sido a maior enchente em volume de água já registrada na Ceagesp. A última grande enchente ocorreu em 1999. Desta vez, em alguns galpões a água subiu 1 metro e meio, deixando vários produtos debaixo d’água. A chuva começou na tarde de terça-feira e, segundo Amorim, por volta das 23 horas a água começou a subir rapidamente. Os portões da companhia foram fechados para impedir a entrada de novos fornecedores no local. Quem estacionou o caminhão na pátio e ficou dormindo no carro esperando o amanhecer para descarregar conseguiu sair antes da água subir. Já os que trancaram o veículo e foram dormir em algum outro lugar não tiveram tempo para retornar e impedir que a água atingisse os produtos, todos perecíveis.

O mercado imobiliário vive especulando sobre a possibilidade de a Ceagesp ser transferida para outro local. O bairro de Vila Leopoldina está crescendo e atraindo vários empreendedores.

Tornado deixa R$ 90 mil  de prejúizos

São Paulo – O tornado que atingiu a região de Indaiatuba na quarta-feira atingiu ventos de 140 quilômetros por hora e deixou um rastro de destruição. Cerca de 800 casas foram destelhadas e 30 fábricas do distrito industrial de Indaiatuba foram totalmente destruídas. O vento forte derrubou postes, destelhou casas e arrancou árvores. Trinta e oito pessoas ficaram desabrigadas. Os empresários da cidade calculam em mais de R$ 90 milhões os prejuízos. O governador Geraldo Alckmin visitou a região, mas não liberou verbas. Afirmou apenas que vai estudar benefícios para as cidades atingidas, como isenções de impostos.

O tornado provocou estragos em 30 empresas, derrubando dois prédios e destelhando outros. O fornecimento de energia elétrica só foi restabelecido no fim do dia. A cidade também ficou sem água e o restabelecimento somente ocorreu durante a madrugada de ontem – a falta de energia elétrica e a enxurrada comprometeram o tratamento e a distribuição, que foram suspensos.

Desabrigados

A cidade registrou 108 desabrigados, que foram alojados em escolas e igrejas. Até o final da tarde de quarta-feira, os hospitais continuavam atendendo apenas as urgências. A Defesa Civil Regional providenciou cestas básicas, colchões e cobertores. Apesar de a chuva ter dado trégua, a Prefeitura mantém o estado de emergência; as aulas também estão suspensas.

Além de Indaiatuba, Capivari foi uma das cidades que mais sofreram com o temporal. A Prefeitura decretou estado de emergência. Parentes e amigos acompanharam o enterro de Eneida Uemura, de 48 anos, que morreu após ser atingida por uma viga de madeira que voou de uma placa de propaganda. Cerca de 100 famílias estão desabrigadas devido ao destelhamento e alagamento das casas. A falta de água ainda atinge o bairro Rossi e falta energia elétrica em outros sete pontos da cidade. Em Campinas, a Rua Barão de Jaguara, no centro, está interditada devido a uma cratera que se abriu durante a forte chuva na noite da terça-feira. O vento forte fez dois ônibus com estudantes de Campinas tombarem. Os passageiros tiveram ferimentos leves, mas passam bem.

São Paulo calcula o valor dos estragos

São Paulo – A chuva que caiu sobre São Paulo nesta semana jogou por terra o velho ditado de que São Paulo não pára. Depois de cerca de 15 horas de temporal, a cidade parou na manhã da quarta-feira e os prejuízos são incalculáveis. O Rio Tietê transbordou, jogou suas águas sobre a Marginal Tietê e ninguém que tinha de passar por São Paulo vindo de pelo menos cinco rodovias conseguiu chegar. Até as 10h, 137 linhas de ônibus ficaram paradas.

A Rodoviária do Tietê, a maior da América Latina, ficou fechada por pelo menos oito horas. O Aeroporto de Congonhas não pôde receber 44 aviões. A Ceagesp, maior centro de abastecimento do País, alagou e as perdas passam de R$ 7 milhões. Muitas casas foram invadidas pela enchente.

O Corpo de Bombeiros atendeu 106 ocorrências. No Hospital das Clínicas, 30% das consultas foram canceladas e 15% dos médicos faltaram. Escolas municipais também foram atingidas: 59 tiveram salas de aula invadidas pela água, destelhamento ou desabamento. Algumas escolas cancelaram as aulas. O abastecimento de água ficou comprometido em vários municípios da Grande São Paulo.

Uma ambulância que transportava um cadáver de Belo Horizonte para São João do Oeste, em Santa Catarina, ficou submersa na Marginal Tietê por quase 17 horas.

Muita gente foi a pé para o trabalho. Outros não foram trabalhar. O paulistano seguiu o apelo do prefeito José Serra e ficou em casa, evitou sair. À tarde, as principais vias da área central estavam com pouco movimento simplesmente porque os carros que circulam diariamente na cidade não conseguiram chegar. Moradores de bairros que precisam transpor a Marginal Tietê para chegar ao centro ficaram só do outro lado. Na zona norte, empresas e comércio tiveram de fechar as portas. Indústrias dispensaram funcionários. Muitos estabelecimentos só abriram depois do meio-dia.

"Só nos próximos dias teremos noção das perdas registradas no comércio", diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo. O coronel Celso Carlos de Camargo, que comanda a Defesa Civil, disse que a cidade estava preparada para a chuva, havia emitido alertas e, por isso, não houve perda de vidas.

Desabamentos

A água do Rio Tietê baixou, mas sete subprefeituras continuam em estado de alerta e 16 em estado de atenção por causa do risco de desabamentos. Cerca de 1.800 trabalhadores atuaram na limpeza da sujeira deixada pela enchente ontem. Amanhã, haverá uma megaoperação de limpeza na Radial Leste. Nas casas à beira do Córrego Pirajussara, muita gente não dormiu com medo de outra chuva forte, mas os meteorologistas dizem que não há este risco.