Testemunha protegida diz que PCC mandou matar sua mulher

Um ex-integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) disse à Justiça que a facção matou a companheira dele depois do vazamento de um depoimento que ele prestou como testemunha protegida contra a organização criminosa. O relato, de 29 de agosto, faz parte do processo em que o Ministério Público do Estado (MPE) denunciou 175 supostos membros do PCC.

O caso começou quando Orlando Mota Júnior, o Macarrão, participou de um programa de delação premiada e afirmou que o responsável pela morte de um agente penitenciário, em 2010, é Elves Riola de Andre, o Cantor. Em seguida, a companheira da testemunha foi encontrada morta no banheiro de sua residência, em São José dos Campos. A ordem teria partido de dentro da Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior do Estado.

Segundo Macarrão, o assassinato foi uma vingança do PCC depois que a alta cúpula do comando, a Sintonia Fina Geral, soube do seu depoimento e “decretou” sua mulher. O depoimento de Macarrão foi usado na denúncia do MPE acompanhado de escutas telefônicas feitas em penitenciárias.

Em uma gravação, o detento Roberto Soriano, o Beto, diz a outro membro do PCC, Eric do Vale, para “pegar” (executar) a testemunha. Já Edilson Borges Nogueira, o Birosca, sugere a Soriano que “deveria ser tomada alguma atitude para o cara sentir (matar alguém da família)”.

Soriano chegou a comentar com Birosca que Marco Willians Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, “ficou decepcionado com a atitude de Macarrão”. Os membros do PCC também ficaram preocupados com uma retaliação depois do assassinato da companheira de Macarrão. Numa conversa com outro detento, Soriano pede reforço na segurança dos ônibus que levam familiares para visitar os presos. Ele queria ajuda dos “irmãos” (cúmplices), “pois o Macarrão falou que irá mandar matar a nossa família e as crianças”.

O advogado Antonio Davi de Lira é citado na denúncia do MPE como “pombo-correio” dos integrantes do PCC. Segundo a Promotoria, em setembro de 2010, Soriano diz para o advogado pedir a Vale, preso em Presidente Venceslau, dar um recado a Macarrão, que estava na mesma unidade. O aviso era que se ele continuasse com a “palhaçada”, o PCC “derreteria a sua família inteirinha”.

Lira, um dos 175 denunciados pelo MPE, nega que seja intermediador da facção. “Nunca levei recado de preso. Eric (Vale) foi um cliente meu. É conversa em cima de sentenciado”, diz ele. Ao MPE, Macarrão declarou que Lira pertencia ao grupo de Sintonia das Gravatas, o corpo jurídico do PCC formado por 16 defensores. O preso afirmou que o advogado foi um dos primeiros contratados pela organização e que ele “estava sempre disposto a cumprir qualquer papel que lhe fosse ordenado, inclusive retransmitir ordens de assassinato”. Procurado, o TJ-SP não se manifestou sobre o vazamento do depoimento ao PCC pois, segundo a assessoria do órgão, qualquer investigação de um suposto vazamento corre sigilosamente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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