Termina seqüestro na Raposa Serra do Sol

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Ex-reféns recepcionados pelo superintendente da PF, delegado
Francisco Mallmann (de costas).

Boa Vista e Brasília – Foram libertados na manhã de ontem os quatro policiais federais presos pelos índios macuxi na Aldeia Flexal, na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Eles chegaram a Boa Vista em um helicóptero Cougar, do Exército, fizeram exame de corpo de delito e passam bem. Os quatro foram trazidos pelos próprios indígenas que os mantiveram presos por nove dias. O índio Altevir Lopes desceu do helicóptero com as armas dos policiais em uma caixa de papelão. Ele entregou as pistolas e as câmeras fotográficas ao governador Ottomar Pinto (PTB), que imediatamente as repassou ao superintendente da Polícia Federal em Roraima, Francisco Mallmann.

As negociações para a liberação dos reféns foram feitas durante a madrugada, depois que os indígenas quebraram o acordo de trazê-los na sexta-feira. O grupo foi libertado ontem depois de uma longa negociação conduzida na véspera por três representantes do Ministério da Justiça, do Gabinete de Segurança Institucional e Casa Civil, três integrantes do governo local – incluindo o governador Ottomar Pinto – e oito líderes indígenas. Ligados à Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (Sodiur), sob influência de fazendeiros e políticos interessados nas riquezas da reserva, os caciques da aldeia Flexal tomaram a decisão de libertar os reféns um dia depois do vazamento da informação de que a PF preparava uma ação de resgate que contaria com o apoio de mil soldados do Exército que estavam de prontidão na região.

Preocupado com o risco que envolveria a operação de resgate, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, recomendou que fossem feitos todos os esforços possíveis para se encontrar uma solução pacífica para o episódio. O governador Ottomar Pinto, que estava em Belém (PA), onde participava de um encontro de parlamentares da Amazônia, atendeu, então, ao pedido do ministro da Justiça, para somar-se ao grupo de interlocutores. Um avião da Força Aérea Brasileira foi buscá-lo para trazer até Boa Vista. Os índios cederam à pressão com a garantia de que não seriam presos em flagrante. Mas serão processados pelo crime de cárcere privado, num inquérito já instaurado pela Polícia Federal. Eles exigiam a revogação do decreto de homologação da demarcação de forma contínua, mas se contentaram com a promessa de que Brasília vai atender a uma pauta de reivindicações para assegurar uma série de medidas que proporcionem o desenvolvimento socioeconômico da região, para evitar o abandono das comunidades.

"Foi a vitória da paciência e do planejamento"

Brasília – "Foi a vitória da paciência e do planejamento estratégico. Havia outras opções que, felizmente, não precisaram ser usadas. Espero que este final feliz seja o ponto de partida para um trabalho fecundo de cooperação entre as duas esferas federativas", comemorou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, depois de ser informado sobre a libertação dos reféns.

Nas negociações com os índios, o governo federal se comprometeu a investir R$ 58 milhões em 21 ações que beneficiarão não só os índios da região, como os colonos que terão que ser deslocados da reserva. Esses colonos deverão ser reassentados numa área de 150 mil hectares que integrarão o novo pólo agrícola de Roraima. Os índios querem crédito exclusivo para os indígenas, bolsa de estudo para cursarem a universidade, a construção de uma hidrelétrica, incentivo à produção e a saída imediata dos agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal. Os termos do acordo serão acertados entre os tuxauas e Celso Correira, da Casa Civil e representantes da Funai (Fundação Nacional do Índio), Funasa (Fundação Nacional da Saúde) e Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). O superintendente da Polícia Federal anunciou que aos poucos retirará seus agentes da reserva. A Operação Upatakon conta com a mobilização de 140 homens, distribuídos em seis bases. Também foram dispensados os 300 policiais convocados para invadir a aldeia Flexal, caso as negociações fracassassem.

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