Os advogados do presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que acompanham os depoimentos das testemunhas de defesa do senador no Conselho de Ética informaram que o governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), disse que jamais ouvira falar que Renan tivesse qualquer participação em empresas de comunicação, antes de surgirem as denúncias contra o parlamentar alagoano.
"Durante a campanha eleitoral de 2006, João Lyra nunca falou nada sobre sociedade oculta ou propina para renovação de rádio, apesar de ter falado até da mãe de Renan Calheiros", testemunhou o governador. Segundo os advogados José Fragoso e Davi Rios, Teotonio Vilela não poupou críticas ao autor (Lyra) das denúncias contra Renan. "A grande máxima de Lyra é: ‘Quando o dinheiro ou a chibata não resolvem, é porque um dos dois foi pouco’.
"O João Lyra não tem limites quanto aos procedimentos de campanha", afirmou Teotonio, que disputou o governo estadual em parceria com Renan e venceu o adversário. "Ele não mede nada para conseguir seus objetivos", acrescentou. Segundo Teotonio, Lyra fez, durante a campanha, agressões pessoais. "Como Renan foi meu aliado, Lyra transfere muito a ele a responsabilidade pela sua derrota", disse o governador. E acrescentou: "Ele (Lyra) largou tudo, suas usinas, para se dedicar a esse ódio a Renan e a mim".
Ferreira
A segunda testemunha que depôs esta manhã, após o governador, foi Sérgio Luiz Ferreira, contador de O Jornal no período em que a empresa era de propriedade de Nazário Pimentel. Segundo os advogados de Renan, Ferreira disse que foi contratado por Nazário Pimentel para fazer uma auditoria em O Jornal, permanecendo na empresa após a conclusão do estudo. Afirmou que Nazário vendeu suas empresas a João Lyra e que nunca ouviu nada acerca de participação de Renan, ao contrário do que dissera o contador José Amilton em entrevista à revista Veja.
Ferreira afirmou também que José Amilton, com quem tinha sociedade em uma empresa de distribuição de jornais, depôs na Justiça contra os interesses de sua própria empresa e em favor do grupo de João Lyra em troca de continuar empregado ali. Em seguida, Ferreira entregou ao relator, senador Jefferson Péres (PDT-AM), uma cópia da sentença, em que o juiz reconhece que o contador José Amilton recebia ordens da direção de O Jornal. "Eu era diretor administrativo-financeiro das empresas de Nazário e, pelo que sei, quem comprou tudo foi o João Lyra", disse o contador.
Pimentel
Também chamado a depor como testemunha de defesa do presidente licenciado do Senado, Nazário Pimentel abriu sua fala, segundo os advogados, queixando-se de ter sofrido muito em razão das afirmações que Lyra vem fazendo em seu jornal. Disse que, quando pretendia vender suas empresas, procurou vários usineiros e se lembrou de Lyra, que não conhecia, depois de alguns contatos mal sucedidos. Por isto, teria redigido uma carta ao senador Renan Calheiros, para que este a repassasse ao usineiro Lyra.
Relato dos advogados dá conta de que, questionado se tal intermediação era apropriada, Pimentel respondeu que, quando se viu com 150 funcionários e com dificuldades para pagar a folha salarial, não mediu esforços para fazer o que lhe parecia ser o mais certo. Afirmou que Renan o apresentou a João Lyra, mas que não participou de qualquer negociação sobre a venda.
Segundo a testemunha, todos os pagamentos foram feitos por João Lyra pessoalmente. Pimentel acrescentou que Lyra fazia grandes aportes regulares nas empresas, mas que não honrou todos seus compromissos. Pimentel afirmou que foi preso como depositário infiel em razão de Lyra ter vendido máquinas que estavam penhoradas e em nome dele, Nazário. "João Lyra não tem honra, não tem ética", acusou o empresário. Ao final, garantiu que, mesmo nos dois anos depois da venda, período em que continuou trabalhando nas empresas, nunca houve nenhuma interferência do senador Renan Calheiros ou qualquer preposto seu nessas empresas.