Brasília – Uma sucessão de tropeços que ainda pode render muita dor de cabeça para o governo. É o que pensam os cientistas políticos sobre a tão esperada reforma ministerial, que mexeu pouco e a muitos frustrou. O que seria uma ferramenta para formar um governo de coalizão, acabou se tornando um elemento de desgaste na relação do governo com a base aliada. E a previsão, segundo analistas, é de um período de turbulência pela frente.
?Foi uma comédia de erros do início ao fim por parte da coordenação política do governo. Um processo que se arrastou por quase seis meses. A demora resultou em derrotas, como a eleição de Severino na Câmara, e gerou a paralisia dos ministérios, que ficaram em suspenso. Ao longo desse tempo, assistimos à deserção do PPS e do PMDB?, avalia Geraldo Tadeu Monteiro, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS).
Segundo Luiz Henrique Bahia, professor de Ciências Políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o Executivo e o Legislativo devem travar um embate mais agressivo a partir de agora. ?O futuro da política é incerto. Mas não há dúvida que a tensão entre os dois poderes deve aumentar?, alerta.
O ônus político dessa manobra deve sair caro: ?Agora, aprovar cada um dos itens da agenda do Congresso, entre reformas e propostas, vai custar politicamente muito mais caro. Vai depender do processo de barganha, que não vai se dar em bloco, mas individualmente, o que tem um custo mais alto?, explica Bahia.
E os efeitos não devem demorar a aparecer: ?O governo pode enfrentar problemas na aprovação da MP 232 (que eleva impostos dos prestadores de serviços). A reforma era a moeda de troca que o governo tinha. Outros temas que estão na pauta também podem sofrer retaliação. E a base aliada, muito pouco coesa, ainda pode se deteriorar bastante?, avalia Monteiro.
Para os analistas, o governo deve esperar agora a poeira baixar. Mas uma nova reforma pode acontecer ainda este ano, de olho nas eleições de 2006. ?Fazer outra reforma agora seria dar um tiro no pé. Lá pelo mês de outubro, quando já houver uma definição dos candidatos, é que deve sair nova reforma?, analisa Monteiro.