Esta semana viralizou nas redes sociais um vídeo mostrando o movimento da água em uma piscina interna no edifício Millenium Palace, em Balneário Camboriú, considerado o maior prédio do Brasil já entregue, com 177 metros de altura e 46 andares. A água saiu pelas bordas da piscina devido à vibração do prédio durante rajadas de vento que atingiram 90km/h, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). O movimento lembra muito o balançar de um ‘navio em alto mar’.
Em nota, a FG Empreendimentos, construtora responsável pelo prédio, informa que não recebeu nenhuma ocorrência por parte dos moradores do prédio e que a tempestade não causou danos nas edificações.
Cada um dos 36 apartamentos conta com uma piscina privativa interna. O síndico do prédio, através do Sindicato da Habitação de Santa Catarina (SECOVI – SC), afirmou à reportagem que não irá comentar o caso.
O fenômeno é normal?
Apesar de as imagens do vídeo serem impressionantes, elas não necessariamente indicam que a estrutura do prédio esteja comprometida. Quem explica é Ricardo Dias, engenheiro civil com mestrado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP) e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
De acordo com o especialista, forças horizontais como o vento produzem deslocamentos laterais nos edifícios. Os materiais estruturais apresentam certa elasticidade, não sendo completamente rígidos. Isso faz com que todo prédio tenha uma vibração — que pode ser mais ou menos perceptível, de acordo com a altura que a pessoa está na estrutura.
O limite do quanto esse prédio pode “vibrar” é estabelecido de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para concreto armado. Segundo a estimativa do engenheiro, feita com base na altura do prédio, o Millenium Palace pode ter cerca de 10 centímetros de deslocamento lateral devido ao vento no topo. “É bastante. Isso não danifica a estrutura quando dentro do limite, mas elementos móveis presos nessa estrutura acabam sentindo. Em edifícios muito altos, por exemplo, quadros podem ficam tortos porque o edifício vibra pelo vento”, afirma. “Pela escala do edifício, é muito factível que o projeto tenha feito todas as verificações dentro das normas”.
Quadros, lustres e água em reservatórios são alguns dos elementos que podem dar uma sensação de que a vibração está exagerada. Além disso, quanto mais distante a pessoa se encontra do térreo — e, naturalmente, da fundação da estrutura —, maior a sensação do movimento.
A nota divulgada pela construtora reafirma esse conceito. “É natural e previsto pelas normas técnicas da construção civil e pelos mais avançados estudos da engenharia que todas as edificações, independentemente de suas alturas, se movimentem. Isso porque fica assegurada sua estabilidade, sempre respeitando e considerando o bem-estar e o conforto de cada morador”, acrescenta a nota.
Danos causados pelo vento
Segundo o professor da PUCPR, o dano causado por uma falha nas normas de engenharia por conta do vento seria imediato se sujeito a valores não considerados no projeto. “Edifícios que tenham movimentos laterais excessivos dariam indícios através de fissuras em paredes. Durante a própria construção já se começa a sentir se o prédio tem essa percepção com relação ao vento”, aponta Dias.
Ainda de acordo com a construtora, o Millennium Palace passou por ensaios de túnel de vento com a empresa BRE, na Inglaterra, para testar a segurança do prédio. “Prédios altos, principalmente como os edifícios de Balneário Camboriú, são projetados para suportar ventos muito superiores ao máximo valor previsto para eles”, afirma a empresa.