Brasília – Dada como inevitável, a sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE) na presidência da Câmara dos Deputados traz todos os elementos para tornar-se um processo tumultuado. A corrida já envolve pelo menos 15 parlamentares, que tentam se cacifar como candidatos de seus partidos e obter apoio nas demais legendas.

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Na avaliação de líderes partidários, é necessário o apoio de pelo menos 200 deputados para a eleição. Na disputa, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), que já presidiu a Câmara duas vezes, saiu na frente. Mas ele enfrenta resistências, que afloraram inclusive em seu próprio partido, onde emergiu também a candidatura de Osmar Serraglio (PR), o relator da CPI dos Correios. No jogo intrincado, o PT ressurge com pelo menos quatro candidatos – José Eduardo Cardozo (SP), Paulo Delgado (MG), Sigmaringa Seixas (DF) e Arlindo Chinaglia (SP).

A escolha, que deverá ocorrer apenas cinco dias úteis depois da possível renúncia de Severino à presidência, embora ele insinue que poderá apenas se licenciar do cargo, é tumultuada ainda por um dado adicional. Ao presidente da Câmara cabe a decisão de engavetar ou de levar adiante os processos de impeachment contra o presidente da República. Embora nenhum processo esteja em elaboração, essa hipótese não chega a ser completamente descartada e dependerá do rumo das três CPIs (Correios, Bingos e Mensalão) que investigam atos de corrupção de integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e de seu partido.

Temer não só enfrenta resistências internas como assusta ao PFL. Os pefelistas entendem que a decisão fortaleceria demasiadamente o PMDB, que já conta com a presidência do Senado e com um licenciado de sua bandeira, Nelson Jobim, na presidência do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, já existem peemedebistas em dois outros postos da linha de sucessão do presidente da República. Adversário afiado de Lula, Temer tenderia a ser menos sensível a apelos governistas, se chegar à sua mesa, na presidência da Câmara, um processo de impeachment.

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O PSDB e o PFL pretendem trabalhar juntos e buscar uma fatia do PMDB. Essa aliança poderia garantir a eleição de um nome que não tivesse grande resistência nas demais bancadas. Mas esses mesmos partidos, até o momento, não conseguiram unidade interna sobre o tema.

Entre pefelistas, uma corrente prefere dar ao PT a presidência da Câmara sob o argumento de cumprir com a regra da proporcionalidade: a tradição de conceder ao partido com maior representação o direito de indicar o presidente. Mas no interior do PT ainda não se criou um clima de consenso, o que não chega a ser novidade no partido, que perdeu a eleição para Severino, por apresentar dois candidatos no começo do ano (Virgílio Guimarães e Luiz Eduardo Greenhalg), quando a eleição se apresentava como tranqüila. Estão interessados em presidir a Câmara, Arlindo Chinaglia e José Eduardo Cardozo, o primeiro considerado pela oposição como muito afinado com o Planalto e o segundo considerado pelo Planalto como muito independente.

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Mas para negociar com a oposição, o partido de Lula teria de elaborar uma lista de nomes e submetê-la à negociação com os demais partidos. Apesar de buscarem essa solução de consenso, os líderes partidários sabem que há o risco de a disputa se dar voto a voto, no plenário.

Fica no ar um sentimento de frustração

Brasília – O segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais mentores da candidatura de Severino, diz que o sentimento que predomina agora é o da frustração: "Lógico que se ele sair será um sentimento de frustração. Mas nesses poucos meses de mandato, Severino implantou um sistema de maior igualdade entre os deputados. O novo presidente será alguém capaz de resgatar a imagem do Legislativo, mas não basta só isso. Se chegar alguém que se ache o todo- poderoso, que aqui existe deputado de primeira e segunda classe, não terá vez".

O amigo e ex-companheiro de partido Ivan Ranzolini (PR), de mudança para o PFL, lembra que vibrou com a eleição de Severino mas começou a divergir dele e do PP quando o partido aceitou um ministério. "Quem indica ministro fica ligado com o governo", diz Ranzolini. O petebista Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) defende a gestão Severino, afirmando que ele prestou um grande serviço ao imprimir um pouco mais de equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo. Mas admite a decepção. "Eu não esperava isso do Severino. Ele é uma pessoa limitada, mas jamais achei que estaria envolvido em qualquer tipo de problema escuso. Talvez, de certa maneira, aproveitaram-se da ingenuidade dele para jogar sobre ele um caminhão de melancias", disse Faria de Sá.