Surge acordo nuclear sul-americano

Salamanca, Espanha (AE) -Brasil, Venezuela e Argentina fecharão um acordo de cooperação na área nuclear. Anunciada ontem pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, a iniciativa foi confirmada horas depois pelo assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República brasileira, Marco Aurélio Garcia, que afirmou, imediatamente, não ver ?nenhum problema? nesse projeto. ?Há uma iniciativa da Venezuela no compartilhamento de iniciativas comuns na área nuclear. Não vejo problemas porque os programas dos três países são transparentes, pacíficos e protegidos de qualquer derivação militar?, afirmou. ?Não há nada ainda de concreto?, completou.

A declaração de Garcia indicou uma mudança substancial na posição do governo brasileiro sobre a questão da cooperação nuclear. Até o momento, o único acordo que o Brasil havia assinado com outra Nação neste campo foi com a Argentina, nos anos 80s, que se tornou o embrião do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e apagou do cenário a possível corrida militar sul-americana. Os dois parceiros mantêm estreita cooperação nuclear por meio da Agência Brasil-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc).

Em maio, quando Chávez fez a primeira exposição pública da mesma iniciativa entre Venezuela, Brasil e Argentina – incluindo o Irã – a reação do governo brasileiro havia sido gélida. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi enfático ao declarar que não havia nenhuma disposição da administração federal brasileira em estender a cooperação nuclear a outros países. O Ministério da Ciência e Tecnologia, igualmente, negou a possibilidade de acordo.

Mas algo mudou. ?Qualquer país que queira compartilhar com o Brasil seus programas de uso pacífico será bem-vindo?, ressaltou Garcia, ontem. O assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também desdenhou da possível reação de várias potências – principalmente, dos Estados Unidos – sobre a criação dessa tríplice aliança nuclear que, segundo ele, teria, exclusivamente, o objetivo de proporcionar capacidade de produção e fornecimento de energia pacífica.

Washington

O governo americano não se manifestará sobre o acordo de cooperação nuclear entre o Brasil, a Argentina e a Venezuela antes de conhecer os detalhes do entendimento anunciado ontem em Salamanca, indicaram fontes oficiais. Declaração do porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli, no início da semana, sobre o eventual fornecimento de um reator nuclear pela Argentina à Venezuela, indica, no entanto, que Washington recordará aos três países suas obrigações como signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e de outros acordos internacionais.

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