A espera do Enem neste domingo, 5, resultou em amizade para cinco mães protetoras que decidiram esperar os filhos terminarem a prova, que tem 5h30 de duração, em frente ao portão da PUC-Rio, na zona sul do Rio. Se os adolescentes chegaram contrariados ao lado das mães, elas estavam animadas revezando-se em três banquinhos de plástico, emprestados pela banca que fica na porta da universidade e já íntimas sobre a vida.

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Estranhas há três horas, quando o portão foi aberto para a prova, agora elas já estavam trocando informações sobre os filhos e mostrando fotos das proles uma para as outras. “Sei que somos loucas de estar aqui, mas a gente aproveita o tempo que dá para ficar com os filhos. Eu trouxe um material para estudar para uma aula que tenho que dar amanhã, mas nem consegui porque fiquei batendo papo”, disse a bióloga Zeneida Teixeira, mãe da Júlia, de 17 anos.

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A espera pelo término de provas não é uma novidade em sua rotina. “Esta aqui foi fácil. O mais duro para mim foi na porta do Colégio Militar, quando ela só tinha 9 anos. Vi um monte de mães e quando cheguei no portão os militares não deixaram eu entrar. Gritei lá de fora: Júlia, você não vai se perder! Foi uma angústia”, relatou Zeneida, que também tentou entrar na PUC-Rio, mas foi impedida pelos seguranças.

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Para passar o tempo, as cinco foram almoçar juntas no shopping da Gávea, perto da PUC, e “olhar as vitrines”, em um tour pela região, como disseram, liderado pela designer Bernardete Porfirio, mãe da Clara, de 15 anos. Ela disse que trouxe a filha de surpresa para fazer a prova. “Ela não queria fazer a prova porque disse que estava muito nova. Então, entrei no táxi com ela e disse que íamos fazer um passeio de domingo. Chegando aqui ela reparou no movimento e disse: já sei, você me trouxe para fazer o Enem. Fiquei aqui até o fim para ver se ela não ia dar um piti e voltar do portão”, disse a designer rindo, como se tivesse pregado uma peça na filha.

Às 16h40, Clara saiu do portão com cara de poucos amigos. Quando a mãe perguntou se ela tinha ido bem, a menina de cabelos roxos nas pontas respondeu: “Claro que não né, tinha coisa que nunca vi, estou no primeiro ano”. A mãe virou para as novas amigas e respondeu. “Ela ficou nervosa. Disse que ainda nem sabe o que quer fazer, mas olha só como desenha bem”, afirmou, procurando fotos da arte da filha para mostrar para as amigas e dando a entender que o futuro como designer já estava traçado.

O filho da dona de casa Luzia Bandeira tentou dissuadir a mãe de fazer a guarda no portão desde a manhã. “Como eu estou um pouco doente, ele disse que era melhor eu ficar em casa. Mas eu preferi vir. Ele nem sabe que eu ainda estou aqui esperando. Vai ter uma surpresa”, disse a mãe de Alexandre, que quer fazer “educação ou nutrição”. “Ele é tudo o que eu tenho”, acrescentou.

Já a dona de casa Wanda da Silva, mãe de Katrin, de 19, justificou a guarda “à insegurança da cidade”. Questionada se no próximo domingo, na segunda fase da prova, ela precisará vir de novo, ela ficou em dúvida. “A Katrin não quer, diz que já aprendeu. Ela não tá errada não, ela está certa. Mas aí fico pensando nela voltando muito tarde, sozinha. É perigoso, não é?”, questionou para as novas amigas, já sabendo a própria resposta.

Apesar das objeções dos filhos, as cinco manifestaram o desejo de voltar no próximo domingo. “Mas no próximo vamos vir preparadas, trazer lanchinho para um piquenique e cadeiras de praia”, disse Zeneida, a mais animada do grupo, dizendo que as cinco já haviam trocado números de WhatsApp.