Sucessão no Congresso começa a preocupar Lula

Brasília 

– Quando Luiz Inácio Lula da Silva receber a faixa presidencial, em 1.º de janeiro, termina a briga de petistas e aliados por ministérios e cargos. Uma outra disputa, porém, atrai cada vez mais as atenções da Praça dos Três Poderes, a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Afinal, os titulares desses cargos terão poderes suficientes para ajudar, ou atrapalhar bastante, a vida do novo governo no comando de votações importantes.

Partido com a maior bancada, o PT de Lula tem caminho livre para eleger o presidente da Câmara. Hoje, há um certo consenso entre os demais partidos, de governo e de oposição, de que deve ser respeitado o critério da proporcionalidade para a composição da Mesa Diretora.

Os petistas, no entanto, terão de enfrentar a competição dentro da bancada. O líder João Paulo (SP) desponta como o nome preferido, mas o mineiro Paulo Delgado também está no páreo. – Hoje o PT é o favorito. O PSDB não terá candidato. Queremos esperar a correlação de forças – afirma o líder tucano Jutahy Júnior (BA), interessado em assegurar aos tucanos postos de destaque na Mesa.

O jeito sereno nos momentos apreensivos da transição fez aumentar a chance da escolha de João Paulo, um ex-metalúrgico que vai para o terceiro mandato.

-No poder, senta-se quem concilia as diferenças – afirma o líder do PTB, Roberto Jefferson (RJ), um dos que apóiam João Paulo.

Comando

No PFL, segunda bancada da Câmara, a decisão é deixar o comando com o PT e dirigir os esforços para indicar a primeira vice-presidência. O mais cotado é o atual líder, Inocêncio Oliveira (PE), que já presidiu a Casa e sempre sonha em voltar ao posto. Na opinião do veterano José Genoino (PT-SP), que não se reelegeu, o futuro presidente da Câmara terá de respeitar a oposição e ser uma pessoa de perfil negociador.

– Um nome de estilo linha-dura ganharia a resistência dos partidos que serão oposição. Hoje, a tendência do PT é João Paulo – diz Genoino, ressaltando que os próximos quatro anos deverão ser marcados por intenso diálogo entre governo e Congresso.

Outro decano da Casa, Miro Teixeira (PDT-RJ), que entra no oitavo mandato, diz que a capacidade de diálogo será traço essencial para o cargo. Miro prevê que, sem o rolo compressor dos anos Fernando Henrique, o plenário voltará a ser palco de debates candentes.

Apesar de elogios que recebe dentro e fora do PT, João Paulo não é unanimidade. Com mais tempo de plenário que o companheiro, Paulo Delgado, quatro mandatos na bagagem, quer lutar pelo posto.

– Estou inscrito no exército pacifista do Lula para presidir a Câmara e sei que isso tem de ser uma missão -anuncia Delgado, conhecido pelo bom trânsito junto aos partidos que apóiam o atual governo, especialmente o PSDB.

Como tudo o que acontece no PT, a disputa será amplamente debatida e já tem data marcada. Em 18 de dezembro, a bancada se reúne para tratar do assunto.

Petista rejeita formalismo

Brasília (AG) – Em meio à euforia da vitória, Luiz Inácio Lula da Silva brincava com os amigos mais próximos sobre sua condição de presidente eleito. – Me chama de Vossa Excelência para ver como é que fica? – repetia, rindo. Mais de um mês depois, Lula ainda tenta incorporar ao dia-a-dia o formalismo inerente ao cargo. Seus aliados ainda não se acostumaram com o novo “status” e escorregam na hora de lidar publicamente com o presidente eleito.

Muitos deles ainda o chamam de você e se referem a ele simplesmente como Lula. – Às vezes, escapa – justifica José Graziano, coordenador-executivo do Programa Fome Zero e um dos assessores mais próximos de Lula. Ciente da responsabilidade e das exigências do cargo, Lula tem se esforçado para se adaptar à nova rotina.

Mesmo assim, preocupa-se em justificar a mudança de velhos hábitos, como o de conversar descontraidamente. -Não estou conversando com as pessoas como gostaria. Tenho me contido. Primeiro porque não quero incorrer em erros e depois porque percebo que as pessoas tendem a interpretar minhas declarações. E agora tudo o que digo tem uma repercussão muito grande – disse semana passada durante encontro com a bancada do PT.

Sem formalismos

Nas audiências reservadas, dependendo do interlocutor, Lula dispensa o excesso de formalismo. Ao receber o governador eleito do Paraná, Roberto Requião, deixou-o à vontade para que o continuasse tratando por você. – O formalismo fica lá fora – sugeriu.

Já nos aparecimentos públicos, não só Lula como seus principais assessores têm mantido o ritual exigido pela Presidência. – A formalidade é necessária em alguns casos para garantir a eficiência de certas ações. Mas nem sempre é fácil mudar velhos hábitos – diz Luiz Gushiken, da equipe de transição.

Mas o formalismo do PT tem suas peculiaridades. Alguns petistas se referem a Lula como “companheiro presidente”.

Singer sugere taxação

Rio

(AG) – Professor da USP, o economista Paul Singer é um dos nomes mais respeitados pelos líderes do Partido dos Trabalhadores (PT). Diante da recente disparada dos índices de preços, sua receita é curta e grossa: taxar os ganhos com as exportações e, com isso, impedir que os preços de vários alimentos continuem subindo de forma abusiva.

O câmbio é o vilão da inflação?

Paul Singer:

Não há outro foco de pressão. Não há inflação de demanda.

O dólar subiu em torno de 50%, como em 99, mas a inflação agora parece fora de controle. Por quê?

Singer:

Com essa desvalorização, vimos lucros extraordinários dos exportadores. Eles ganharam duas vezes: aqui e lá fora. Esperavam vender a um dólar de R$ 3 e a cotação foi a R$ 3,60.

O que fazer, então?

Singer:

Uma saída é o imposto sobre ganhos com as exportações.

Esse imposto beneficiaria principalmente o setor de alimentos?

Singer:

Sim, de soja, de açúcar…

Mas isso deteria a explosão da inflação?

Singer:

Não há explosão. Há uma espiral inflacionária.

E como ela pode ser detida?

Singer:

Conversando com toda a cadeia produtiva e reativando as câmaras setoriais.

Quanto tempo isso demora para dar resultado?

Singer:

Leva em torno de um ano.

Então 2003 será um ano perdido?

Singer:

De jeito nenhum. É possível reduzir o desemprego, fazer a economia crescer.

Fala-se em aumentar os juros. Adiantaria?

Singer:

Traria mais recessão. Estou convencido de que a população brasileira não pode mais pagar esse preço, em hipótese alguma.

Ciro Gomes critica FHC

Recife

(AE) – O ex-presidenciável Ciro Gomes (PPS) criticou ontem a postura que o presidente Fernando Henrique Cardoso vem adotando em seus pronunciamentos públicos, com objetivo de manipular a opinião pública diante do que ele classificou de descalabro em que se encontra a situação do País. “Todo dia ele ( FHC) afirma que não há problema no País. Na verdade é um desastre o que está acontecendo”, afirma. Ciro avalia que a equipe de transição do futuro governo deve ter prudência na organização e planejamento das informações apuradas com o atual governo, e formatar sem emoção e com muita transparência, um documento público.

“O presidente eleito deve mostrar ao povo, tão logo assuma o governo, como está o galope da dívida, do câmbio, a situação das estradas, a previdência, a seca no Nordeste, os excedentes públicos. Não conheço, até hoje, tal situação de desgoverno. Isso deve ser colocado para o público de forma transparente, com base em números. Não vai haver solução mágica para tanto descalabro”, destaca.

O ex-presidenciável enumerou algumas perspectivas negativas a serem enfrentadas pelo futuro governo em 2003, principalmente na questão do controle da inflação, que deve fechar, segundo o IGP-M , em torno de 20,92%. A inflação oficial deve ser analisada pelo IGP- M que de fato analisa o preço das tarifas em geral.

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