Sucateada, PF tenta alertar o governo

A cerimônia de hasteamento da bandeira nacional em frente ao edifício-sede da Polícia Federal (PF), na capital federal, serviu ontem para o lançamento da Campanha Nacional de Valorização da PF. Idealizada pelo Grupo das Entidades Representativas de Classe (Gerc), o evento acontece simultaneamente em unidades da PF em todo o Brasil. Em conjunto, o Gerc representa um universo de mais de 15 mil profissionais. Compareceram ao evento em Brasília cerca de 300 policiais federais, usando coletes onde se lia a inscrição: ?Corrupção. Ou se acaba com ela, ou ela acaba com o País?.

Em nota oficial, o grupo de entidades assinala que, para 2006, o orçamento destinado à Polícia Federal foi reduzido em R$ 36 milhões e que até outubro deste ano o governo federal fez a liberação de apenas 5% do Fundo Nacional de Segurança Pública. ?A realização do referendo sobre a comercialização de armas de fogo e munição, que, oficialmente, custou R$ 274 milhões, foi maior do que todo o repasse para a área de Segurança Pública neste ano?, protesta o grupo de entidades.

?Nós precisamos mostrar para a sociedade brasileira o valor que tem essa polícia?, disse o vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapf), João Valderi de Souza. ?Ela trabalha com um quadro reduzido de funcionários e faz um trabalho sensacional em prol da comunidade brasileira?, comentou, lembrando as inúmeras operações de sucesso que a PF realizou em 2005 em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Pernambuco.

Segundo Souza, os policiais estão tirando dinheiro do próprio bolso para trabalhar, ?uma vez que a diária de R$ 64 não dá nem para tomar café da manhã?. O vice-presidente da Fenapf assinala que hoje a PF tem cerca de 20 mil homens e o ideal seria, no mínimo, um contingente de mais 25 mil para cobrir os 8 milhões de quilômetros quadrados do território nacional, onde, somente de fronteiras, são 6 milhões de quilômetros.

Na avaliação do presidente da Associação Nacional dos Servidores da Polícia Federal, Carlos Alberto Costa Gatin, também agente da instituição, o movimento que foi lançado ontem em todo o Brasil é um ?grito de alerta?. De acordo com Gatin, a PF não está querendo partir para uma greve, mas ?dar um alerta ao governo sobre o que a gente quer?. ?O que nós merecemos é o respeito do governo federal?, afirmou.

O que os policiais federais entendem como valorização, disse Gatin, envolve melhores condições de trabalho, maior número de policiais trabalhando, melhor aparelhamento do efetivo com viaturas, armas, diárias e um maior valor no vale-alimentação, que, segundo ele, hoje é de ?irrisórios? R$ 5. ?Para se ter uma idéia, o nosso salário não é reajustado há oito anos?, observou.

Já o presidente do Sindicato Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Joel Matos, delegado de PF, afirma que a campanha de valorização da Polícia Federal vai mostrar ?o esquecimento que a Polícia Federal está vivendo?. Na sua avaliação, no dia-a-dia funcional o órgão é protagonista de combate à corrupção, à evasão de divisas e ao crime organizado, mas ?a contrapartida do governo federal, que é nos dar o mínimo de recursos físicos e salariais, não existe?.

Ministério da Justiça contesta

Brasília (ABr) – A assessoria de imprensa do Ministério da Justiça contestou informações divulgadas em nota oficial pelo Grupo das Entidades Representativas de Classe (Gerc), idealizador da Campanha Nacional de Valorização da Polícia Federal lançada ontem em todo o País. Segundo a assessoria, diferentemente do que mostra o Gerc, o montante destinado à Polícia Federal no projeto de lei para o orçamento da União de 2006 não foi reduzido em R$ 36 milhões, mas sim teve um aumento de R$ 60 milhões, resultando num total de R$ 546 milhões.

O ministério nega outra afirmação das entidades: a de que o custo oficial da realização do referendo sobre o comércio de armas de fogo e munição, R$ 274 milhões, é maior do que todo o repasse para a área de segurança pública neste ano. De acordo com a assessoria, o referendo não foi pago com dinheiro do ministério e o orçamento para a área em 2005 foi de aproximadamente R$ 1 bilhão.

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