SP usa só um critério para mudar rede de educação

O principal estudo que embasou a reorganização das escolas da rede estadual de ensino em ciclos separados foi considerado “inapropriado” por especialistas ouvidos pelo Estadão. O documento, que contém 19 páginas, foi obtido pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação e traz somente dados já apresentados pela secretaria que apontam que escolas de ciclo único apresentam melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp), principal indicador de qualidade educacional no Estado.

Segundo a pasta, escolas de ciclo único têm desempenho 9,4% acima da média na avaliação estadual, enquanto as de 2 e 3 ciclos têm resultado 1,9% abaixo da média. O Idesp é calculado por meio de dois outros índices: o desempenho dos alunos nos exames do Saresp e o fluxo escolar (aprovação).

“O estudo apresenta uma correlação que não existe. Colocam como única variável a escola ter ciclo único ou não, mas não isolaram outros fatores, como o tamanho da escola e o tempo de gestão do diretor e de profissão dos professores”, ponderou a diretora executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz. “O estudo não é apropriado para a secretaria dizer que faz a reestruturação com base nele.”

A especialista, no entanto, reconhece que a medida pode ser positiva. “Houve uma queda no número de alunos e a escola custa dinheiro. Então, decidiram redistribuí-los. Imagino que tenha sido este o raciocínio. Era melhor o secretário ter dito que está buscando melhorar a gestão das escolas e dizer que eles obtêm com isso uma economia”, avaliou.

Para Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), o levantamento não considerou outros fatores importantes. “Encontrar escolas com um ciclo de melhor desempenho não necessariamente indica que este é o fator decisivo. É preciso considerar o número de alunos por escola, o índice socioeconômico. Em educação não existe uma variável que explique tudo”, avaliou. “Tudo indica que são outros interesses. Uma racionalização no sentido de se ter menos professores. Estão fechando escolas que têm desempenho acima da média, que têm só um ciclo. A proposição da secretaria é muito frágil.”

Segundo o coordenador de projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins Faria, a secretaria tem uma “crença” na medida que vai além do estudo. “Fico com a sensação de que esse não deve ser o único estudo que embasou a reorganização. Há uma crença de que essa ação é importante, mas o estudo não trabalha para explicitar de forma mais robusta que os alunos de ciclo único têm melhor desempenho”, disse. Ele avalia que faltou estratégia de comunicação sobre a reestruturação. “Um problema de implementação pode dificultar que a política seja efetiva, ao menos no curto prazo, e dificultar ganhos maiores. É importante envolver a comunidade e os professores. É uma política que nasceu com uma resistência.”

Contraponto

Já o economista Naércio Menezes, do Insper, avalia que o estudo não é suficiente por não considerar outras variáveis, mas diz que se houver mais evidências de que o ciclo único pode melhorar o resultado dos alunos, a reorganização é bem-vinda. “O número de matrículas está caindo bastante por causa da transição demográfica. Em algum momento, essa mudança será necessária. Não podemos deixar como está permanentemente com medo das reações”, comentou.

Para a coordenadora da gestão da educação básica da Secretaria Estadual da Educação, Gislene Trigo Silveira, o foco foi a diminuição da complexidade de gestão. “Escolas que atendem o mesmo segmento vão ser menos complexas. Vai certamente criar um clima propício para a gestão, uso dos recursos e também providenciar melhor aprendizagem dos alunos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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