Setenta e um presos foram transferidos pela Secretaria Estadual da Administração Penitenciária (SAP) para uma prisão mantida em sigilo para evitar que a guerra de facções, que já matou 113 presos em quatro Estados desde outubro, chegue a São Paulo. Os detentos transferidos por ordem do secretário da pasta, Lourival Gomes, pertenciam a três facções: Comando Vermelho (CV), Família do Norte (FDN) e Okaida – esta, cujo nome é uma adaptação de Al-Qaeda, atua em Alagoas, Pernambuco e Paraíba.

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No fim de outubro, 65 presos haviam sido transferidos e, na tarde de ontem, mais seis detentos suspeitos de pertencerem a essas facções foram recolhidos pela SAP e enviados para o isolamento. Além deles, a direção da secretaria também mantém isolados 16 líderes do PCC, entre eles o chefão Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), o cárcere duro da penitenciária de Presidente Bernardes, no oeste do Estado.

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A decisão da secretaria de fazer o levantamento de facções no Estado foi tomada em outubro do ano passado, logo após as primeiras mortes da guerra – foram 18 em presídios de Rondônia e Roraima. A Inteligência do Grupo de Atuação Especial de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE), descobriu que a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) dera uma ordem para localizar os seus inimigos do CV que estivessem nas 166 unidades prisionais paulistas.

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“A partir das mortes nos presídios do Norte, a guerra entre CV e PCC foi oficializada”, afirmou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco de Presidente Prudente, região onde a cúpula do PCC está presa.

Antecipar

De acordo com o secretário Lourival, a Inteligência da SAP já havia começado o levantamento antes da ordem do PCC. “Nós sempre estamos atentos para tentar antecipar os movimentos dos presos.”

De acordo com Lourival, a secretaria pesquisou cerca de 220 mil prontuários para encontrar os possíveis alvos de uma vingança do PCC. “Nenhum preso confessa pertencer a uma facção”, afirmou. Além dos registros do sistema carcerário, a SAP usou informações recolhidas pelos diretores de unidades prisionais.

Também foram obtidos dados com a rede de informantes dos funcionários do sistema prisional. Para justificar a transferência, mesmo que o preso negasse pertencer às facções rivais do PCC, ele foi realocado por segurança ou precaução. “No mínimo, você dizia para o preso que, com o sotaque de carioca dele, ele poderia ser confundido com alguém do CV e morto”, contou um diretor de presídio.

Levantamento feito pela inteligência do Ministério Público Estadual (MPE) mostra que, além dos novos inimigos do PCC – CV, FDN e Okaida – teriam presença no Estado outras facções menores, como o Terceiro Comando da Capital (TCC), o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC), o Cerol Fino e a Seita Satânica.

O TCC e o CRBC foram fundados por dissidentes do PCC e tiveram a maioria de seus líderes já assassinada pelo Primeiro Comando da Capital. Entre eles estão três dos fundadores de seu principal rival, o CRBC.

Método

Em 1999, a cúpula do PCC inaugurou no anexo de segurança máxima da Casa de Custódia de Taubaté a forma de acerto de contas que se tornou um método de conduta – decapitação e extração do coração de suas vítimas. Com a participação de Marcola e de Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, o método teria sido criado por Jonas Mateus, que era açougueiro. A cúpula do PCC cortou as cabeças de Marx Luis Gusmão de Oliveira, o Dentinho, Ademar dos Santos, o Da Fé, e Antonio Carlos dos Santos, o Bicho Feio. A cabeça do último foi jogada aos pés do magistrado que estava no presídio para negociar o fim da rebelião.

A Seita Satânica foi por diversos períodos aliada do PCC, assim como a ADA (Amigos dos Amigos), facção carioca que se tornou um apoio do PCC depois que Roberto Soriano, o Tiriça, e Jeremias Rogério de Simone, o Gegê do Mangue, ambos da cúpula do PCC, negociaram um acordo em 2010 com Francisco Bonfim Lopes, o Nem, líder da ADA do tráfico na Rocinha.

Mapeamento

De acordo com o promotor Gakiya, o PCC está presente em todo o País, mas enfrenta forte oposição nos Estados do Amazonas (FDN), Ceará (CV), Maranhão (Bonde dos 40), Paraíba (Okaida), Mato Grosso (CV), Rio Grande do Norte (Sindicato RN) e Santa Catarina (Primeiro Grupo Catarinense). “A forma imediata de se evitar outras tragédias é separar os presos de facções rivais”, afirmou.