Brasília – O procurador da República Luiz Francisco de Souza denunciou ontem, no Congresso, a existência de um serviço de espionagem internacional dentro da Polícia Federal (PF), pago pelo governo dos Estados Unidos para atender aos interesses americanos. O esquema, conforme o procurador, envolve cerca de cem policiais, treinados pelos americanos, entre delegados, agentes e técnicos da área de inteligência. Entre os alvos da espionagem, estariam os Palácios do Planalto e da Alvorada e teriam sido grampeados o ex-presidente Fernando Henrique e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre 1999 e 2003, segundo apurou Souza, os Estados Unidos remeteram ao Brasil US$ 11,2 milhões, por meio do FBI (a polícia federal americana) a Central de Inteligência (Cia) e o órgão de repressão às drogas (DEA). O dinheiro foi entregue à PF pela embaixada americana em Brasília e, segundo o procurador, em vez de entrar no orçamento da instituição, foi depositado nas contas de vários delegados, entre os quais o diretor da Divisão de Repressão a Entorpecentes, Getúlio Bezerra.
Souza informou que abriu inquérito para apurar o esquema e anunciou que pedirá nos próximos dias a quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal de Bezerra e outros acusados. A PF conformou o recebimento dos recursos, mas nega qualquer irregularidade.
O dinheiro, segundo a PF, chega regularmente ao Brasil por força de convênio entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, em vigor há mais de cinco anos, para combate bilateral ao tráfico internacional de drogas. Souza disse, porém, que o acordo não foi aprovado pelo Senado, como manda a Constituição, e está recheado de irregularidades.
Uma delas é que o dinheiro não entra no Orçamento da União, nem é feita prestação de contas do uso ao Tribunal de Contas da União (TCU).