Novas variedades de soja transgênica produzem e armazenam nos grãos substâncias capazes de neutralizar o vírus da aids. As plantas, desenvolvidas pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, servirão como fábricas vivas do princípio ativo de um gel anti-HIV, produto promissor para prevenir o contágio em mulheres. O trabalho é fruto da cooperação da Agência Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos com a Embrapa.
O instituto americano tem realizado um grande inventário de potenciais microbicidas naturais. Duas proteínas mostraram particular eficácia no combate ao HIV: a cianovirina-N – extraída da alga azul Nostoc ellipsosporum – e a griffithsina – obtida de algas vermelhas do gênero Griffithsia. Elas aderem à cápsula do vírus e impedem que invada as células. O NIH patenteou os genes que produzem as duas substâncias.
Em 1998, pesquisadores americanos criaram variedades de bactérias Escherichia coli com o gene da cianovirina-N. Surgiram, depois, as linhagens transgênicas de milho e tabaco capazes de fabricar o microbicida anti-HIV. Em 2005, cientistas identificaram a segunda molécula – a griffithsina – e comprovaram sua eficácia dez vezes superior à cianovirina-N. Um artigo publicado no mês passado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) revelou como mais de 9 mil pés de tabaco transgênico produziram apenas 60 gramas da proteína.
“Ainda é pouco”, afirma Elibio Leopoldo Rech Filho, coordenador da pesquisa brasileira com a soja. “Precisamos produzir em larga escala.” Rech Filho recorda que o continente mais afetado pela epidemia – a África – é marcado pela pobreza. “Um gel caro será inútil.” O cientista considera o milho e o tabaco alternativas pouco eficientes para a produção dos microbicidas. O NIH parece dar-lhe razão. O instituto americano licenciou as patentes dos genes para a Embrapa e firmou uma parceria de cooperação científica para a produção de soja transgênica com a técnica de biobalística. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.