Na porta do Instituto Médico Legal (IML) de Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, Marisol passa os olhos, mais uma vez, pela lista de mortos. Há uma semana, ela procura notícias do marido, o gesseiro Melquizedete de Oliveira, de 49 anos. Ele estava no bairro Duas Pedras e sua casa foi uma das atingidas pelas chuvas da semana passada. Vizinhos contaram que o viram vivo. Marisol já buscou em hospitais e em abrigos, e nada. “O filho de 11 anos está desesperado.”
O drama dela é comum entre os familiares dos 229 desaparecidos em toda a região, que contabiliza 741 mortos, mais de 6 mil desabrigados (pessoas que perderam tudo e precisam dos abrigos públicos) e 7.780 desalojados (aquelas que podem contar com ajuda de vizinhos e familiares). O dado dos desaparecidos é do Ministério Público do Rio, que usa o Programa de Identificação de Vítima (PIV) para ajudar os familiares a localizar os parentes vivos ou mortos – pela primeira vez, é usado em uma catástrofe.
“Os números de desaparecidos fornecidos pelas prefeituras são maiores, pois eles registram muitos desaparecimentos duas vezes. Aqui temos a possibilidade de cruzar dados, eliminar os excessos e ter uma lista mais qualificada”, disse o promotor Pedro Borges. Os promotores estão conectados em tempo real com os sistemas dos hospitais públicos, do IML e da Polícia Civil. Na lista, detalhes que podem ajudar na identificação, como tatuagens e cicatrizes, estão ao lado dos nomes.