O secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, Ciro Simoni, anunciou nesta terça-feira que sobreviventes, parentes, voluntários e profissionais que participaram do socorro às vítimas da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, serão acompanhados por pelo menos dois anos por um serviço de assistência que o Estado está montando. Profissionais de saúde serão orientados a buscar envolvidos no episódio e convidá-los a passar por revisões periódicas, de acordo com cada caso.
“Há pessoas que podem ter problemas psicológicos e clínicos. Todos devem fazer exames rotineiros e periódicos para detectar eventuais patologias posteriores”, explicou. “Em situações como essa, é certo que queimados graves terão de passar por diversos procedimentos para recuperar a pele e teme-se que alguns envolvidos tenham depressão, complicação pulmonar e até alterações neurológicas.”
Além de prestar assistência, o serviço do governo vai gerar conhecimentos para o futuro. “Em episódios como esse, há estatísticas como as de quem chega ao hospital e morre, quem chega e vai para a alta e até mesmo de suicídios”, destaca Simoni, revelando que três internações feitas desde o incêndio foram motivadas pelo temor de que o paciente atentasse contra a própria vida. “Por circunstâncias como essas, tanto os pacientes quanto as famílias das vítimas precisam de acompanhamento prolongado.”
Na mesma entrevista, Simoni e médicos que participaram do atendimento fizeram um balanço do uso de equipamentos e medicamentos enviados do exterior ao Rio Grande do Sul. Cedido pelo Canadá, o sistema de respiração extracorpórea – espécie de pulmão artificial que oxigena o sangue fora do corpo – foi aplicado em dois pacientes. O estado de um era muito grave e ele morreu no sábado. Outro ferido está evoluindo bem. “A máquina deve ser retirada amanhã (quarta-feira) ou na quinta-feira”, disse o especialista em transplante de pulmão e cirurgia torácica da Universidade de Toronto, Marcelo Cypel, que atendeu à solicitação do Ministério da Saúde e participa do atendimento aos feridos.
O medicamento hidroxicobalamina, que chegou no sábado e foi doado pelos Estados Unidos, foi usado em 35 pacientes. Trata-se de um antídoto para o cianeto, veneno formado pela combustão do poliuretano – componente da espuma que revestia a boate Kiss. A Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul afirmou que 11 pacientes tiveram alta nesta terça. Dos 81 feridos que permanecem internados em sete hospitais de Porto Alegre, três são de Santa Maria, um de Canoas e um de Caxias do Sul. E 23 respiram com ventilação mecânica.