Primeiro sobrevivente da colisão entre o jato Legacy e o Boeing da Gol a falar em público, o funcionário da Embraer Daniel Robert Bachmann fez nesta quarta-feira (6) um depoimento evasivo à CPI do Apagão Aéreo da Câmara. No acidente, 154 pessoas que estavam no avião da Gol morreram e os cinco passageiros e os dois pilotos do Legacy sobreviveram. Dizendo-se decepcionado com o depoimento do empregado da Embraer, que fabrica o Legacy, o relator da CPI da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), acusou Bachmann de mentir à comissão de inquérito.
"Em muitos momentos do depoimento o senhor faltou com a verdade por não contar tudo o que sabia", acusou Maia, ao final do depoimento de Bachmann. "Quem o senhor está querendo proteger", indagou o relator. "Não tenho quem proteger", respondeu Bachmann. Os mesmos advogados que na véspera acompanharam o presidente da Embraer, Frederico Curado, à CPI estavam nesta quarta-feira com Bachmann.
Nas cerca de quatro horas de depoimento, o empregado da Embraer caiu em contradições em relação ao transponder e o Tcas – instrumentos que localizam a aeronave e evitam colisão. Primeiro Bachmann afirmou só teve conhecimento de que o os instrumentos estavam desligados no momento do choque entre o jato e o Boeing pela imprensa. "Mas durante o depoimento, ele (Bachmann) disse que estava na sala da Serra do Cachimbo no momento em que o comandante do Cindacta 4 conversou com os pilotos e os pilotos disseram que o transponder estava desligado", observou Marco Maia.
O funcionário da Embraer disse ainda que "acha muito improvável" que o transponder tenha sido desligado voluntariamente pelos pilotos Jan Paladino e Joseph Lepore. Logo no início do depoimento, Bachmann fez um relato emocionado sobre o acidente. Com a voz embargada, mas sem chorar, contou sobre o momento do impacto entre o jato e o Boeing. Garantiu que, em nenhum momento o jato variou de altitude e defendeu os pilotos norte-americanos, com quem se encontrou o início deste ano nos Estados Unidos. Bachmann explicou que, assim que houve a colisão os cinco passageiros do jato tentaram ajudar os pilotos olhando pelas janelas se havia danos na fuselagem do Legacy.
"Houve um forte impacto, a aeronave desestabilizou, mas voltou logo depois a estabilizar. Depois do choque, vimos combustível vazando sobre a asa do Legacy e começamos a procurar um lugar para aterrissar", disse o funcionário da Embraer. Confrontado pelo deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) com as transcrições da caixa preta do Legacy, Bachmann afirmou que não entrou na cabine dos pilotos para conversar. Alegou que é seu companheiro de empresa Henry Yendle, que vendeu o jato para a ExcelAir, quem conversa com os pilotos norte-americanos.
Pela manhã, o presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, George William César de Araripe Sucupira, afirmou que o transponder do jato Legacy não pode ter sido desligado acidentalmente. "Não há possibilidade de o transponder ser desligado sem a interferência do piloto", afirmou. Em sua avaliação, os controladores de vôo não podem ser acusados de ter cometido homicídio doloso (intencional). "Eles podem até ter sido negligentes. Então é culpa e não dolo", disse Sucupira.
