Quando correu os olhos pela lista de mortos nos presídios e não encontrou o nome do filho, o pedreiro Edmilson Oliveira, de 55 anos, não sabia o que sentir, mas certamente não era esperança. Edvilson Oliveira, de 25 anos, seu filho, já havia escapado com vida, em 1º de janeiro de 2017, do que chamou de “corredor da morte” no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus – onde 56 detentos foram brutalmente mortos. O ataque naquela data teve até explosão do muro que dividia os pavilhões, o que o jovem viu como um sinal divino para escapar do local.

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Mas não demorou para Edvilson cair na vida do crime novamente, como lamenta o pai. Em 2018, foi detido pela polícia por tráfico mais uma vez e enviado para o Centro de Detenção Provisória Masculino. Quando na segunda-feira, 27, surgiram as primeiras notícias da nova onda de mortes, o celular do pedreiro recebeu imagens do local – e eram trágicas. Em uma fileira de corpos, seu filho era o quinto, mais distante na imagem, mas inconfundivelmente era ele. A lista oficial estava errada, asseveraram os parentes.

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Nesta terça-feira, 28, Edmilson estava sentado em um dos vários bancos na entrada do Instituto Médico-Legal (IML). Aguardava a oportunidade de reconhecer o corpo do filho, chancelando o que vira na foto. “Sem dúvida, é ele, infelizmente.” E o que fez com que Edvilson se tornasse uma das vítimas? Para a pergunta, o pai deu uma resposta que se repete entre os parentes dos demais detentos. “Não sei, mas ele não era de facção.”

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Situação contrária vivia a família de Helder Costa, de 42 anos. Detento do Compaj, seu nome apareceu em duas listas oficiais divulgadas nesta semana. Ainda assim, a irmã Kelly Katiúcia, de 33 anos, tentava se apegar à pequena chance de que, na verdade, seu irmão tivesse sido confundido. “Nada está resolvido. Vamos esperar até o último trâmite para ter certeza”, disse. “Ele não tinha facção.”

Sem prazo

A razão para o ataque não era o que preocupava mais Maria do Socorro Salgado, de 53 anos. Ela se angustiava em ter passado o dia todo sem saber um prazo para a liberação do corpo do irmão, Marcilei Salgado, de 41 anos – à noite, funcionários do IML informavam que não seria liberado mais ninguém até o dia seguinte, além dos 15 que já haviam sido liberados.

O nome de Marcilei estava na lista e a família já havia reconhecido o corpo. “O que queremos é só um enterro digno. A falta de respostas ágeis é uma falta de respeito com as famílias.” Diferentemente de 2017, quando recebeu uma ligação de Marcilei informando que tudo estava bem com ele, Socorro logo inferiu o pior do silêncio do celular agora.

O que se repetiu em relação àquele ano foi a aquisição pelo IML de um caminhão-frigorífico para comportar tantos corpos de uma só vez. Nele, uma das vítimas era Moisés Silva. Seu primo, Daniel Machado, de 39 anos, também aguardava a permissão de sepultamento. Nos últimos dias, conta o primo, Moisés já tinha compartilhado com parentes a sensação de que alguma coisa ruim estava para acontecer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.