Foto: Aliocha Maurício / O Estado |
Congestionamento aéreo obrigou Aeronáutica a adotar ?rodízio? de jatinhos nos aeroportos. |
?A situação é crítica?. Foi com essa frase que o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, definiu ontem a situação nos principais aeroportos do país, que há quatro dias estão com atrasos constantes nos vôos comerciais por causa da operação-padrão deflagrada pelos controladores de vôo do centro de controle aéreo de Brasília (Cindacta 1), como forma de chamar a atenção para as condições de trabalho.
Para tentar amenizar o problema, a Infraero, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e as empresas aéreas definiram três diretrizes, após reunião com a cúpula do governo federal: melhorar o fluxo de informações sobre o espaço aéreo, recrutar controladores de vôo aposentados e contratar novos profissionais para essa área.
Durante a reunião, ontem cedo, representantes da Infraero, da Anac, do Decea e empresas aéreas concordaram que a principal medida a ser tomada a curto prazo é manter todos os dias representantes na Coordenação Geral de Navegação Aérea, órgão que monitora todo o espaço aéreo brasileiro.
Só na manhã de ontem, pelo menos 50 vôos registraram atrasos nos aeroportos Internacional de São Paulo, em Guarulhos; Congonhas, na capital paulista; Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília e também no Galeão, no Rio. Em média, os aeroportos das principais capitais brasileiras registram atraso de 3 horas nas decolagens dos vôos.
Segundo o especialista em segurança do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Ronaldo Jenkins, que participou do encontro, o objetivo é monitorar se está havendo algum atraso gerado pelo impedimento de uma decolagem, por exemplo, e fazer com que essa informação chegue ao usuário do transporte aéreo. ?Estamos buscando uma solução conjunta para minimizar a situação atual. Neste momento, quem mais sofre é o usuário. Não existe aeroporto, empresa aérea, Decea ou Anac sem o usuário?, afirma Jenkins.
Segundo ele, outra medida que foi decidida após a reunião é o recrutamento de controladores de vôo aposentados para que eles possam passar por uma breve reciclagem e ajudar a minimizar os atrasos no médio prazo. Por fim, o representante do Snea diz que vai haver contratação de novos controladores, mas essa medida deverá ser tomada no longo prazo.
O atraso dos vôos nos aeroportos está em pauta no Senado. O presidente da Comissão de Viação e Transportes, deputado Mauro Lopes (PMDB-MG), disse que vai requisitar explicações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre a situação caótica nos aeroportos brasileiros.
Já o ex-presidente da Infraero e deputado eleito Carlos Wilson (PT-PE) disse que a situação dos controladores precisa ser discutida, mas avaliou que os prejuízos atuais não se justificam. Ele reconhece que os controladores de vôo desempenham uma tarefa estressante, mas rejeita os argumentos de que há excesso de carga de trabalho.
Aeronáutica cria ?rodízio? para jatos e pequenos aviões
São Paulo (AE) – Na tentativa de reduzir os transtornos causados pela operação-padrão dos controladores de vôo de Brasília, a Aeronáutica decidiu instituir uma espécie de rodízio para aviões de pequeno porte e jatos executivos. Nos horários de pico – entre as 7h30 e o meio-dia e das 17h às 20h -, essas aeronaves ficam, em princípio, impedidas de decolar, pousar ou sobrevoar o espaço aéreo entre Brasília, Cuiabá, São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Exceções serão feitas em situações de emergência – como transporte de órgãos humanos para transplantes ou de pessoas doentes. Aviões em missões militares e de defesa – ou que estejam levando o presidente da República e ministros – também estão livres da restrição.
A medida, segundo especialistas e militares, deve afetar principalmente rotas mais longas, feitas acima de 24 mil pés de altitude. ?Um fazendeiro que possui um avião e pretende se deslocar de uma fazenda a outra, dentro do mesmo estado, não deve sofrer impacto. Já quem deseja ir de São Paulo para Brasília, nos horários de pico, provavelmente terá de reprogramar a viagem?, explicou o major Adolfo Aleixo, do setor de Comunicação Social da Força Aérea Brasileira (FAB).
Assinada no domingo à noite pelo comando da Aeronáutica, sem que nenhuma das empresas afetadas fosse previamente notificada, a norma técnica vai vigorar até 28 de novembro. Os horários estipulados para a restrição aos aviões executivos são considerados os mais saturados, nos quais o centro de controle de tráfego aéreo em Brasília (Cindacta 1) registrou os maiores congestionamentos.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), vinculado à Aeronáutica, não descartou a possibilidade de, enquanto vigorar a restrição, autorizar alguns vôos mesmo nos horários de pico. Entretanto, isso só deve ocorrer se o tráfego aéreo próximo à região de Brasília não estiver sobrecarregado.
Reservas da Aeronáutica reconvocados
Brasília (AE) – O governo federal está convocando militares da Aeronáutica, que já foram para a reserva, para trabalharem nos centros de controle do espaço aéreo, em particular na região controlada pelo Cindacta 1, em Brasília, onde estão ocorrendo problemas devido à saturação de aviões e à falta de controladores de vôo.
A possibilidade de convocar militares na reserva pode ser feita por meio de portaria do comando de uma das três Forças Armadas – Aeronáutica, Marinha e Exército. O governo avalia essa saída como a forma mais rápida para solucionar os transtornos da falta de pessoal no controle de tráfego. Os militares na reserva convocados precisarão de menos tempo de treinamento para ocupar esses cargos. A estimativa é que poderia variar entre uma semana a um mês de treinamento, dependendo do tempo que estão afastados.
Segundo fontes do governo, existem duas formas para trazer de volta à ativa os militares: uma é a designação para o serviço ativo, nesse caso o servidor não recebe gratificação extra à sua remuneração, mas teria direito a alguns benefícios, como utilização de apartamento funcional, e é promovido a um posto imediatamente acima ao que foi para reserva. A outra forma é chamada de ?Prestador de Tarefa por Tempo Certo (PTPC)? em que o funcionário é convocado por tempo determinado, não pode voltar a usar farda, mas ganha uma gratificação adicionada ao salário.
No Afonso Pena, neblina e atrasos
Gisele Rech
Em Curitiba, o Aeroporto Internacional Afonso Pena ficou fechado das 23h de segunda-feira até as 8h de ontem. Devido à neblina, cinco vôos foram cancelados e outros onze ficaram atrasados pela manhã. Mas o fenômeno meteorológico não foi o único a provocar os atrasos.
Segundo informações da assessoria de imprensa da Infraero em Curitiba, como muitas aeronaves chegam à capital paranaense proveniente de cidades onde também foram registrados atrasos, como São Paulo, os vôos terminam atrasando também no Afonso Pena. À tarde, quando o tempo já estava firme, mais dez atrasos foram registrados, causando transtorno aos passageiros em trânsito.