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Sínodo mobiliza comunidades católicas no Brasil

Os olhos do mundo católico estão acompanhando, de forma atenta, as discussões do Sínodo dos Bispos Sobre a Amazônia, encontro que ocorre no Vaticano neste mês de outubro. Há expectativa pelo teor do relatório final, que deve ser apresentado neste fim de semana.

Mas, para religiosos ligados às causas trazidas à tona com o Sínodo, o Brasil já começa a colher frutos: em diversas partes do País, comunidades católicas têm realizado encontros para debater os temas fundamentais do encontro da Santa Sé. Em linhas gerais, como os católicos podem lutar para conter a atual crise climática, acolher os povos imigrantes, respeitas os saberes das populações locais, reduzir a produção de lixo, entre outros. Resumidamente: fazer parte, de forma ativa, da chamada ecologia integral – discurso este arraigado ao pontificado de papa Francisco, pelo menos desde a publicação da encícicla “Laudato Si”, em 2015.

“O Sínodo sobre a Amazônia, desde sua convocação, foi uma bonita caminhada de escuta e reconhecimento dos povos. Eles estão presentes aqui em Roma, muitos na sala sinodal e outros nas atividades da Tenda da Casa Comum (espaço paralelo de debates criado em uma paróquia a poucos metros do Vaticano)”, comenta o coordenador de Articulação da Rede Eclesial Pam-Amazônia (Repam), Leon Souza.

“Os que ficaram no Brasil estão em sintonia, realizando momentos de formação, celebrações, seminários. Como Igreja, não queremos que esse processo se encerre com o documento final e com a possível exortação do Papa Francisco.”

A declaração de Souza relembra um gesto que já se tornou praxe nos sínodos: se o encontro, em si, é um momento em que o papa está aberto para ouvir o que pensam os religiosos de diversas partes do mundo, algum tempo depois da publicação do documento final geralmente vem um episódio importante para a história da Igreja: a publicação de uma exortação apostólica, ou seja, um documento pontifício oficial em que o próprio papa se dirige ao mundo acatando as considerações dos padres sinodais.

Souza avalia que os temas mais importantes do Sínodo já estão ecoando nas comunidades brasileiras, sempre “em torno da chamada ecologia integral”. “E podemos perguntar: mas por que não se fala da doutrina, da moral, da teologia? Justamente porque a ecologia integral consegue dar elementos para compreender e vivenciar a nossa fé a partir da relação íntima entre a humanidade, o ambiente, a espiritualidade, a política, a cultura. Por isso, falar de direitos dos povos, defesa da vida, interculturalidade e interreligiosidade, políticas públicas e direitos da natureza é tão caro neste tempo de atividades no Brasil”, pontua ele.

Organizador de diversos encontros referentes ao Sínodo no Estado de São Paulo, frei Marcelo Toyansk Guimarães, da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Frades Capuchinhos do Brasil, avalia que há um “momento eclesial muito forte” nos locais que estão se dedicando a refletir os pontos importantes da questão. “Tenho estado presente em vários eventos, na organização ou na assessoria. Houve um ato na Catedral da Sé, em São Paulo, em 30 de setembro, nas vésperas da viagem do (cardeal e arcebispo emérito de São Paulo, relator-geral do Sínodo) dom Cláudio Hummes para Roma”, conta. “Ajudei a pensar todo o fundamental, junto a outras 11 religiões”, destaca.

Dos eventos realizados no interior, Guimarães acredita que uma das maiores mobilizações ocorreu em Piracicaba, com cerca de 700 participantes. Também foram grandes os encontros em Campinas, Taubaté, Marília e São José dos Campos. “Neste último, houve uma semana intensa de atividades. Fiz uma palestra sobre ecologia integral e tivemos a presença de pesquisadores e cientistas”, relata. “Todos os encontros foram muito positivos. Há um interesse e uma busca pelo tema, isso é importante.”

“Interessante ressaltar que o Sínodo, em última instância, é um evento eclesial. A Igreja quer revisitar sua presença, seus caminhos, quer propor novos caminhos. É a Igreja se renovando e também participando da ecologia integral, das relações integradas”, explica. “A partir dessa integralidade, a Igreja quer rever sua presença e revisitar sua evangelização. Isso provoca: quando vemos um mundo que se destrói tanto, é contrastante a Igreja afirmar essas convicções. Trata-se, enfim, de um evento eclesial que quer contribuir com a vida do planeta, dos povos e das sociedades em geral.”

“Infelizmente, vemos grupos que estão comprometidos com a destruição e com a morte”, prossegue. “Nossos desafios são o cuidado com a vida, isto é central do Evangelho. O Sínodo não é só uma provocação, é uma força da Igreja, ressaltando as convicções. O planeta é fundamental para todos e para os pobres tem uma importância enorme, porque eles dependem dos recursos que estão à volta.”

Os articuladores já planejam processos e métodos para que tudo aquilo que está sendo debatido no Sínodo possa ser colocado em prática, sobretudo nas regiões que vivenciam mais de perto a crise climática e ambiental. “Vamos continuar investindo esforços e tempo para reunir os grupos e organizações para que as recomendações do Sínodo sejam concretizadas nas igrejas, nas pequenas comunidades, na vida missionária”, diz Leon Souza.

“Sabemos que não há um caminho curto e que muitas coisas exigem de nós conversão plena, abertura para escura a Deus na voz dos irmãos e irmãs da Amazônia. Por isso, o caminho pós-assembleia sinodal deve ser de organizar estratégias pastorais para os novos caminhos propostos por aqui.”

Uma forte discussão presente no Sínodo é que a Igreja crie um organismo que ajude a concretizar esse trabalho nas comunidades locais, reforçando sua presença. “Isso vai acontecer processualmente”, afirma Guimarães. “Sem dúvida, irá trazer luzes para toda a Igreja, propiciando o revisitar de áreas remotas, em missão. Vai ajudar a trazer luzes a partir da ecologia integral. E isso é mais do que nunca urgente. Só temos um planeta e é este planeta que agoniza e precisa de um cuidado, de um cuidado da casa comum.”

Para o frade capuchinho, o importante é que essas práticas “sejam dialogais, nada colonizadoras”. “Ou seja: que produzam vida, que respeitem e contribuam para a promoção da vida humana”, enfatiza.

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