Brasília – A Corregedoria Geral da Câmara decidiu abrir sindicância – primeiro passo no processo de cassação de um mandato – para apurar a suposta ligação do deputado Pinheiro Landim (PMDB-CE) com um grupo de narcotraficantes. A corregedoria espera receber relatório da Polícia Federal contendo indícios de envolvimento do deputado com o tráfico de drogas para dar início às investigações.
Ofício da Câmara solicitando o relatório deve ser encaminhado hoje. Depois de concluída a sindicância, o resultado da investigação é enviado à presidência da Câmara pelo corregedor-geral, Barbosa Neto (PMDB-GO). Em seguida, as conclusões da corregedoria devem ser enviadas ao Conselho de Ética, caso o comando da Câmara considere procedente a acusação.
A abertura de processo de cassação por quebra de decoro parlamentar é uma atribuição do Conselho de Ética. Como a Câmara se prepara para entrar em recesso, a sindicância poderá ser aberta este ano, mas a conclusão dos trabalhos só vai ocorrer em 2003, depois da posse dos novos deputados, em fevereiro.
Executiva
Francisco Pinheiro Landim é empresário no Ceará e começou sua vida política como vereador, em 1966. Foi prefeito de sua cidade, Solonópole, deputado estadual por várias vezes, governador interino do Estado e é deputado federal desde 1991. Participou de quase todas as comissões da Câmara e integra a executiva do seu partido.
Os relatórios da PF apontam relação de amizade entre Landim e o ministro Vicente Leal, que, apesar de ser do Piauí, fez carreira no Ceará. Os dois, segundo as investigações, sempre viveram em regiões próximas. Nas escutas, diversos interlocutores dizem que o “Cabeça Branca”, uma referência a Landim, se encontraria com Leal.
Suspeita de financiamento da campanha
Brasília
(AE) – As escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal durante a investigação em torno de Leonardo Dias Mendonça (o Léo), mostram indícios de que o traficante teria ajudado financeiramente a campanha do deputado federal Pinheiro Landim (PMDB-CE), supostamente coordenador de um esquema de concessão de habeas corpus. Num diálogo com seu sócio, Wilson Moreira Torres, Léo conta que esteve pessoalmente com Landim, que pediu “papel para a campanha”, se referindo a dinheiro.O diálogo se deu em março, quando os Estados Unidos colocaram Léo na relação dos traficantes mais procurados do mundo. Ele estava preocupado com a possibilidade de ser extraditado, mas o deputado, segundo Léo, havia recebido informações de uma pessoa de que isso não seria possível. Antes dessa conversa, o traficante havia dito que não tinha mais dívidas com Landim, a quem chama de “Véio” nas gravações.
“Reuni com o Véio, entendeu? Eu fui pra mim ver um outro negócio, porque o cara falou que o Véio tava puto comigo (…) Fui lá e conversamos um monte de coisa; um monte de trem bão, viu? Animei com o garimpo”, disse Leó a seu interlocutor. E foi justamente neste encontro onde Landim teria pedido dinheiro para a campanha deste ano, na qual foi reeleito. Na conversa, gravada em março, os dois traficantes parecem satisfeitos com o encontro.