O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), pedirá à Polícia Federal (PF) que investigue quem entregou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI Mista) dos Correios a lista com nomes de deputados – 22 deles do PP – que teriam sido beneficiados por pagamentos do suposto esquema de ?mensalão?. A informação sobre a decisão de Severino foi divulgada pelo corregedor-geral da Casa, Ciro Nogueira (PP-PI).
Brasília – Nogueira disse que o presidente da Câmara solicitará também à PF que descubra quem passou a lista ao jornal O Estado de S.Paulo, que publicou reportagem com os nomes domingo.
Severino reuniu-se ontem à tarde, na residência oficial da Câmara, com o corregedor-geral da Câmara, com o presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), com o líder da bancada na Casa, José Janene (PP-PR), e com outros parlamentares do partido. Nogueira afirmou que a relação de nomes entregue à CPI Mista é apócrifa e anunciou que abrirá os sigilo bancário e fiscal assim que a comissão do ?mensalão? for instalada, para provar que não está envolvido no suposto esquema.
?Quem fez isso (a listagem) foi um bandido, e (a lista foi) vazada por um canalha?, afirmou. ?Foi vazada por um bandido?, acrescentou. Ele afirmou que tentam montar na Câmara uma ?operação pântano?. ?Querem jogar lama em todos os homens de bem. Misturar o claro com o escuro e o podre com o são?, disse. ?A intenção dos bandidos é colocar todo mundo no bolo da patifaria para parar as investigações?, reagiu. ?Se pensam que vão me intimidar, estão enganados. Isso só me deu mais vontade de descobrir?, disse.
?É uma molecagem. Não vou ser ministro, até porque vou ser candidato nas próximas eleições. Não tem perigo de Ciro Nogueira ir para o ministério?, disse, sobre se seria um boicote a uma eventual indicação do nome dele para ocupar um ministério.
Lista falsa
O deputado federal Benedito de Lira (PP/AL) disse ontem que o documento entregue à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI Mista) dos Correios pelo ex-funcionário graduado do PP é falso e que o nome dele não consta na lista dos 22 integrantes do partido que recebiam o ?mensalão? – pagamento de mesadas supostamente distribuída a parlamentares da base aliada do governo. O esquema foi denunciado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB/RJ), ex-presidente nacional do PTB.
Benedito de Lira disse que a cúpula do PP analisou o documento entregue pelo ex-assessor do partido à CPI Mista dos Correios e descobriu tratar-se de um documento falso. ?Foi descoberto pela cúpula do PP que esse documento é falso, que não tem nenhuma responsabilidade e o nome que consta na relação não é o meu, é o de uma outra pessoa, chamada Benedito Dias?, afirmou o deputado alagoano, que é coordenador da bancada de Alagoas na Câmara.
Na relação de deputados federais do Partido Progressista consta o nome de Dr. Benedito Dias de Carvalho (PP/AP), que – segundo o portal da Câmara Federal, na internet – é médico e empresário. Por isso, Benedito de Lira disse que não perdoa o erro da imprensa.
Ele disse que se reuniu com os advogados do partido e decidiu entrar na Justiça com ações de reparação por danos morais. ?Vou processar por danos morais o jornal O Estado de São Paulo, o repórter que fez a matéria e as pessoas envolvidas na denúncia?, ameaçou Benedito de Lira.
O deputado alagoano disse que a cúpula do PP já tem pista de quem fez a denúncia. ?Já sabemos quem é essa pessoa?, afirmou Benedito de Lira, sem, no entanto, revelar o nome do ex-funcionário graduado do PP que passou informações à CPI Mista dos Correios sobre a lista de parlamentares beneficiados com o ?mensalão?. O ex-assessor do PP foi apelidado de ?garganta profunda? por saber detalhes do esquema de corrupção envolvendo deputados da base aliada do governo Lula.
O deputado federal João Caldas (PL/AL) negou receber dinheiro para aprovar os projetos do governo e disse que nunca ouviu falar em ?mensalão? durante o tempo em atua na Câmara. ?Essa palavra foi inventada pelo Roberto Jefferson. Eu não conheço essa história?, afirmou Caldas.
No MP, Valério teria apontado nomes
Brasília – O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, ao depor no Ministério Público (MP), informou ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, uma lista com nomes de parlamentares que teriam recebido recursos do chamado ?mensalão?. O esquema ganhou um novo nome nesse depoimento e foi apelidado de ?PF?, o chamado ?por fora?. Nessa lista, constam vários nomes de deputados que receberam e sacaram dinheiro do Banco Rural. A cópia do depoimento de Valério, junto com a lista dos sacadores, será entregue à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI Mista) dos Correios hoje.
Na verdade, os nomes apresentados por Valério seriam, em grande parte, os mesmos que constam da lista do ?mensalão?, apresentada por um informante da CPI Mista dos Correios. Ontem, líder do PT no Senado e presidente da CPI Mista, senador Delcídio Amaral (MS), confirmou que recebeu as denúncias e disse que pediu ao relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB -PR), que as encaminhe à CPI do ?Mensalão?, que será instalada hoje. Segundo Amaral, a nova CPI será o fórum mais adequado para as investigações. ?Eu já pedi ao relator que encaminhe as denúncias que chegaram para a CPI do ?Mensalão??, informou.
Entre as informações que serão repassadas, estão pelo menos oito páginas digitalizadas e ainda existe um relato manuscrito, ambos feitos pelo chamado informante encontrado pela CPI Mista. Entre os 22 parlamentares citados, estão nomes de peso, como os do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e do corregedor-geral da Casa, Ciro Nogueira (PP-PI).
Simões
Citado na lista, o deputado Irís Simões (PTB-PR) negou que tenha recebido o ?mensalão? e afirmou que tem uma relação distante com o deputado José Janene (PP-PR). ?Eu não tenho nada a ver com isso?, disse. Para se defender, ele também recorreu ao suposto aval de Jefferson. ?Eu não fiz parte e sou testemunha de Roberto Jefferson?, disse.
O deputado Augusto Nardes (PP-RS), disse que sempre adotou uma postura crítica em relação ao governo Lula, votando contra a reforma tributária e a favor da instalação da CPI Mista dos Correios. ?Achei a inclusão de meu nome um absurdo. Só pode ser vingança?, afirmou.