Brasília
– O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PMDB-PE) considerou positivo o primeiro pronunciamento oficial do candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no início da tarde de hoje.O setor industrial terá, diante do próximo governo, uma postura cooperativa, de diálogo franco, aberto e positivo no interesse das questões que afetem o País. “Temos a compreensão de que vamos precisar fazer uma aliança para criarmos as condições para que o Brasil retome o crescimento em bases sustentáveis”, afirmou Monteiro.
Armando Monteiro classificou de “interessante” a idéia de pacto social proposta pelo presidente eleito, mas alertou que pacto é instrumento e não um fim em si mesmo. “Um governo é bom quando produz decisões de boa qualidade”, disse. Segundo Monteiro, o País terá, nos próximos meses, o desafio de ultrapassar “um período de certos constrangimentos”, tendo em vista as condições econômicas adversas.
Entre esses “constrangimentos” citou a instabilidade cambial e a necessidade de buscar o ajuste das contas públicas, preservar o superávit fiscal e manter a firmeza no controle da inflação. Monteiro disse acreditar que o presidente eleito está comprometido com essas metas.
Reformas
O presidente da CNI afirmou ainda que o setor industrial quer contribuir com o novo governo na definição de uma agenda de reformas. “Temos que organizar uma agenda que viabilize as reformas, como a tributária, da previdência social, da legislação trabalhista, da área sindical, da área política e do Judiciário.”. De acordo com Armando Monteiro, a reforma mais importante para o setor industrial é a tributária.
Ele sugeriu que, na área dos tributos, o novo governo faça uma reforma passo a passo, de forma a evitar que a discussão dos pontos polêmicos -como a distribuição da receita pública entre União, Estados e municípios – acabe inviabilizando a proposta como um todo. “O sistema tributário atual é um freio para o desenvolvimento da economia”, alertou.
Reiterando a disposição de colaborar com o novo governo, Monteiro ressalvou que a CNI se reservará o direito de discordar e apresentar sugestões, quando julgar necessário. Estas consultas sserão feitas após uma ampla conversa envolvendo lideranças e os empresários do setor. E, ao responder a uma provocação dos jornalistas convocados para a coletiva -se a CNI tem medo de Lula -, Monteiro disse que ter Lula como presidente não assusta a indústria. “Se não assusta a sociedade, não assusta a indústria”.
Abras já admite pacto
Rio
(AE) – O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), José Humberto Pires de Araújo, disse que o segmento supermercadista está pronto para participar do pacto da sociedade proposto pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse também que será importante que o novo governo anuncie o mais breve possível sua equipe econômica “para tranqüilizar ainda mais o mercado e garantir uma transição calma”.Além do anúncio da equipe, o líder empresarial sugere também o esclarecimento de “premissas básicas” das definições de governo referentes a temas como agricultura e reformas tributária e previdenciária. Para Pires de Araújo, o segmento de supermercados é hoje estratégico para o abastecimento nacional, com quase 70 mil lojas espalhadas pelo País, garantindo 75% da distribuição de produtos de consumo final. “Diante desses números, temos a obrigação de nos colocarmos à disposição do governo”, disse.
Fiesp elogia petista
São Paulo
(AG) – O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, disse que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso de estadista ontem e que sinaliza credibilidade. Piva disse também que o discurso de campanha deve agora ser entendido pelo mercado financeiro como uma plataforma de governo e, por isso, deve ser respeitado.– Foi um discurso muito bom e sinalizou credibilidade. Lula falou em controle da inflação, aumento de superávits e controle de déficits, além da intenção de recuperar a capacidade de investimento. O presidente da Fiesp disse que falou na semana passada com líderes do PT e que está esperando as comemorações passarem para conversar novamente. Piva voltou a dizer que é preciso negociar reformas fundamentais, como a fiscal, a tributária e a previdenciária.
Piva disse acreditar que, a médio e longo prazos, o governo se mostre interessado em fazer as reformas política, do Judiciário e trabalhista. Ele defendeu a negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), desde que se possa discutir as barreiras tarifárias e não-tarifárias. Na avaliação de Piva, a globalização é inexorável e o mundo vai se entender por blocos daqui para frente.
O presidente da Fiesp destacou que espera que o mercado financeiro não faça “braço-de-ferro” e se torne uma voz contrária à expectativa de bom desempenho do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Piva afirmou que é preciso acabar com os preconceitos e com as análises simplistas que o Brasil vem recebendo de investidores nos últimos meses. Para ele, o momento é de “união nacional” e mesmo os partidos derrotados, que têm propostas comuns às do governo eleito, devem dar uma trégua.
– Seria burrice os investidores não entenderem o momento que estamos passando. Me assusta muito, principalmente, a desinformação que tomou conta dos mercados internacionais nos últimos meses, junto com a especulação dos que querem enfrentara nossa moeda e aqueles que dão opinião sem ter o menor conhecimento da vitalidade das nossas instituições e das nossas empresas. Espero que o mercado não venha a fazer braço-de-ferro -disse.
Segundo Piva, as eleições deixaram a grande maioria das instituições ao lado do presidente eleito, tanto a indústria como o sistema financeiro formal – que ele chamou de “grandes bancos” – e os trabalhadores.
CNA elabora propostas
Brasília
(AE) – A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e o movimento Rural Brasil, que é formado pelas principais entidades de classe representativas da área agrícola, pretendem entregar um documento contendo uma análise minuciosa sobre a situação do setor e sobre temas que têm impacto direto na agropecuária, ao governo eleito.O presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo, disse que este documento conterá uma avaliação atual da situação produtiva, da área fundiária, tributária, de meio ambiente, e da Amazônia, entre outras, e sugestões sobre os aspectos que o segmento rural julga conveniente manter.