Servidores se assustam com depredação de patrimônio

Um dia depois do protesto que reuniu cerca de 30 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, a depredação do prédio onde funciona o Ministério das Relações Exteriores – invadido ontem (20) por um grupo de manifestantes – assustou os servidores que chegaram para trabalhar manhã de hoje (21). Alguns moradores de Brasília estiveram no local para conferir os estragos.

Ao descer do ônibus em frente ao Ministério do Trabalho e Emprego, a servidora pública Daniley Monteiro, 38 anos, precisou desviar dos vidros estilhaçados espalhados pela calçada. A estrutura que abriga os passageiros à espera dos coletivos ficou totalmente danificada. A cobertura de metal foi quebrada, assim como as paredes de vidro. Uma placa informando o limite de velocidade da via e tombada ao lado do ponto de ônibus completa a cena de depredação ao patrimônio público, ocorrida na noite anterior.

“Que horror, nunca vi destruição nessa proporção aqui na Esplanada. A manifestação do povo, claro, é válida, mas esse tipo de coisa é lamentável, afinal quem vai pagar pelo conserto somos nós mesmos, com nossos impostos”, disse.

O oficial de Justiça Marco Antônio Vieira, 48 anos, também lamentou o que viu na manhã de hoje ao chegar à Esplanada. “É triste ver esse tipo de coisa. A gente chega para trabalhar e encontra o patrimônio do povo depredado por um grupo minoritário que estraga o brilho da manifestação democrática. Já acompanhei muitos protestos, mas nunca com esse nível de destruição”, disse.

Com uma máquina fotográfica pendurada no pescoço, a socióloga Jeane Rodrigues, 35 anos, foi até o Palácio do Itamaraty na manhã de hoje (21) registrar o ocorrido. No local, que foi alvo da ação de manifestantes mais exaltados, funcionários retiravam estilhaços dos vidros. Durante o protesto de ontem, um grupo também ocupou o espelho d’água em frente ao edifício, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, e houve princípio de incêndio na parte externa.

“Vou postar essas fotos no meu Facebook e me posicionar contra esse tipo de atitude totalmente desnecessária de um grupo de vândalos. É revoltante porque tanta gente está mobilizada para protestar pacificamente e essas pessoas tiram o foco da manifestação legítima”, disse.

Para avaliar os estragos e estimar os prejuízos, peritos da Polícia Federal estiveram no Itamaraty nesta manhã, para fazer uma análise técnica. O laudo deverá ficar pronto em até cinco dias. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, criticou as ações e se disse “muito indignado”. “Este [prédio] é um um patrimônio da nação brasileira, um patrimônio público, que representa a busca do entendimento pelo diálogo, com base no direito. Este foi um ato de vandalismo que não pode se repetir”, disse por intermédio da assessoria de imprensa.

 

Já no gramado da Esplanada, em frente ao Congresso Nacional, enquanto equipes do Corpo de Bombeiros ainda faziam rescaldo de focos de incêndio, um pequeno grupo de alunos da Universidade de Brasília (UnB) ajudava na limpeza. Usando vassouras, pás e sacos de lixo, eles catavam latinhas de refrigerante e de cerveja, garrafas de água e pedaços de papel.

 

“Viemos fazer a nossa parte e ajudar um pouco a limpar essa área que, infelizmente, foi alvo de atos de vandalismo, com atitudes ridículas. As pessoas têm que entender que esse tipo de coisa não ajuda em nada nas negociações com o governo, só enfraquece o movimento”, lamentou o estudante de biologia Gian Rech, 20 anos.

Além dos danos causados ao Palácio do Itamaraty, houve pichação em muros de ministérios e em uma porta da Catedral Metropolitana, que também teve um vitral rachado. A catedral é um dos principais cartões-postais da capital federal. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o monumento de Oscar Niemeyer foi reaberto à visitação no fim do ano passado, após passar por reforma, que incluiu a restauração dos vitrais.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo