Servidor é usado como laranja em obra de Maluf

Técnico de laboratório da USP, salário de R$ 1,81 mil, casado, vida regrada e patrimônio modesto, Renato Cavarieri descobriu que virou empresário de grandes negócios quando tentou vender seu carro, um Corsa preto ano 98, e foi alertado que seus bens estão bloqueados por ordem da Justiça. Cavarieri soube, então, que há quatro anos seu nome faz parte da composição societária da Planicampo Terraplenagens Ltda., empresa de papel que emitiu R$ 93 milhões em notas fiscais frias para a contabilidade de uma empreiteira da Avenida Água Espraiada, polêmico empreendimento sob investigação.

O Ministério Público está convencido de que Cavarieri, sem saber, foi usado como laranja pelo esquema de empresas fantasma montado para desvio de verbas públicas em obras viárias da capital. A inclusão dele na direção da empresa ocorreu em 30 de outubro de 2001 – sete meses depois que seus documentos foram levados por ladrões em A.E. Carvalho, na periferia leste da capital.

A Planicampo está sob embargo judicial desde outubro de 2004 – tudo o que é afeto a ela não pode ser negociado em hipótese alguma até o fim de ação de improbidade que tramita na 4.ª Vara da Fazenda Pública contra o ex-prefeito Paulo Maluf. Rastreamento da Promotoria da Cidadania indica que a Planicampo é uma das empresas subcontratadas pelo consórcio Água Espraiada para fornecimento de equipamentos que nunca forneceu e prestação de serviços que jamais prestou. A atividade da Planicampo, segundo a apuração, limitava-se a dar suporte ao caixa 2 das empreiteiras. Ela pode ter sido usada para encobrir outras falcatruas, após os pagamentos relativos à Água Espraiada.

O cerco do Ministério Público alcançou 37 pessoas físicas e jurídicas, acusadas perante a 4.ª Vara da Fazenda. Todos estão com os bens indisponíveis. Caiu na malha fina até quem nunca teve nada com a obra. Cavarieri é um deles. Em junho, ele tomou um susto quando foi tentar fazer negócio com seu Corsa 98 e a financeira o avisou sobre o bloqueio. Indignado, Cavarieri recorreu ao escritório Assis & Reis Advogados Associados. Em outubro, depois de quase 4 meses de pesquisas e peregrinação por repartições oficiais, os advogados Alexandre de Assis e Ivan Aloisio Reis foram à polícia e pediram inquérito.

Assis e Reis descobriram que o servidor foi "admitido" como sócio da Planicampo há quatro anos com participação de R$ 250 mil. A inclusão de Cavarieri na empresa foi lançada na Junta Comercial em 30 de outubro de 2001, data em que a Planicampo mudou de nome. O documento indica como endereço do "novo sócio" uma casa da Rua Visconde de Taunay, Bom Retiro, onde Cavarieri jamais esteve.

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