Brasília – Nos bastidores, o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador Geraldo Alckmin iniciaram uma disputa intensa pela indicação do PSDB à candidatura presidencial no ano que vem. Os dois começaram uma corrida frenética pelo Brasil para assegurar apoio dentro e fora do partido. Há um consenso cada vez maior na legenda de que Serra largou na frente. Mas Alckmin está em seus calcanhares.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dado sinais de que se decidiu mesmo em favor de Serra por uma questão lógica: o prefeito está na frente nas pesquisas e conseguiu aglutinar o partido. Serra também faz uma campanha mais agressiva nos bastidores. Conversa com todo mundo e viaja em busca de acordos.
O passo mais decisivo foi dado recentemente com o consenso na escolha do senador Tasso Jereissati (CE) para comandar o partido. Serra aproveitou as negociações para se aproximar do cearense, um dos principais cardeais do partido. Oficialmente a decisão só deve sair em março. Mas Fernando Henrique, em conversas reservadas, aposta numa solução natural e que o próprio Alckmin chegue à conclusão de que a candidatura Serra será mais competitiva.
Para tentar dinamitar a candidatura Serra como fato consolidado, Alckmin tem feito um corpo a corpo intenso nos últimos três meses. Não perde um único evento partidário e passou a ter uma agenda nacional. Não há evento importante a que Serra e Alckmin não compareçam. "Não existe baixaria. É um clima de respeito mútuo e muita compreensão do papel de ambos antes e depois da definição partidária", disse o secretário de governo do Estado de São Paulo, Arnaldo Madeira.
No último fim de semana, o prefeito e o governador estavam lado a lado na missa dos 30 anos da morte de Vladimir Herzog, na Catedral da Sé. Em eventos do PSDB pelo Brasil, eles também dividem os holofotes. No próximo dia 5, ambos confirmaram presença num encontro em Teresina (PI) promovido pelo Instituto Teotônio Vilela (ITV).
A disputa entre os dois caciques do PSDB já é motivo de comentários bem-humorados entre os tucanos. Numa reunião informal da bancada do PSDB, na semana passada, o deputado Xico Graziano (PSDB-SP) resumiu num comentário o ambiente eleitoral do partido: "Hoje, qualquer evento do partido tem a presença garantida de Serra e Alckmin. Em qualquer evento, existe um espião de agenda. Onde um vai, o outro também é presença garantida".
Em setembro, Serra foi a Palmas participar de um evento do PSDB. Parou numa feira noturna da cidade, onde foi festejado pelos populares. Alckmin, que não pôde ir ao evento, não se fez de rogado e uma semana depois também foi a Palmas para participar da filiação do ex-governador Siqueira Campos.
No mesmo mês, os dois disputaram a presença em São Paulo do líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), nome mais cotado para ser o vice da chapa presidencial tucana. Era véspera do Grande Prêmio de Fórmula 1. Resultado: o senador pefelista almoçou com Serra e jantou com Alckmin, depois de assistir a uma peça de teatro com o governador.
Há duas semanas, Serra esteve em Brasília para um encontro com a bancada do Maranhão, que teve a presença do governador José Reinaldo. Agora, é Alckmin que deve ir ao Maranhão assinar um convênio educacional. "É uma disputa sadia e em determinados momentos até engraçada", diz o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).
