A nova rodada da pesquisa CNI/Ibope, divulgada ontem, mostra pela primeira vez desde o início do governo, o prefeito José Serra à frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas simulações de primeiro turno – e já com uma diferença de 6 pontos porcentuais, acima da margem de erro de 2 pontos. O governador Geraldo Alckmin descontou 9 pontos desde setembro e se aproxima de Lula (32% a 20% para o presidente).
Na simulação de segundo turno, feita pela primeira vez pela CNI/Ibope, Serra vence por folgados 13 pontos porcentuais (48% a 35%) e Alckmin aparece em situação de empate técnico com Lula, atrás apenas 4 pontos porcentuais (41% a 37% para o presidente).
A pesquisa mostra que começa a ganhar forma um fenômeno inverso ao que se via antes, quando o governo perdia prestígio e Lula mantinha a popularidade: agora é o presidente que começa a se descolar do governo, que se estabiliza, enquanto ele segue perdendo intenções de voto de forma linear, ao longo do ano.
"Respingou nele", atesta Márcia Cavallari, diretora do Ibope. Mais do que isso, o cientista político Antônio Lavareda, da MCI Estratégia, que analisa as pesquisas CNI/Ibope, observa que a cada dia o eleitor credita menos a Lula a vitalidade da economia e se sente autorizado a tomar decisões políticas sem considerar que elas vão influir nas questões econômicos. Para ele, a continuada sangria eleitoral de Lula expressa o crescimento, no eleitorado, da idéia de descartar este governo em 2006.
Espírito de natal
Nem cabe especular que o brasileiro está de mau humor: por ter sido feita em dezembro, a pesquisa revela o que Lavareda chama de "espírito do Natal": apesar dos números que rejeitam Lula, 66% dos brasileiros (60% em setembro) acham que o ano de 2005 está sendo bom ou muito bom até o momento; e o expressivo índice de 82% (63% em setembro) acham que 2006 será bom ou muito bom.
Esses indicadores garantem que há forte confiança no rumo da economia. "A conclusão é que, entre os presentes de Natal que o brasileiro pede não está a reeleição de Lula", diz Lavareda.
Márcia Cavallari acha que a queda dos indicadores pessoais de Lula e de seu potencial de votos sinaliza que, finalmente, os escândalos de corrupção começaram, de fato, a respingar nele e a derrubar seus índices pessoais, propiciando o descolamento inverso ao que ocorria nos dois primeiros anos de governo.
Na análise da pesquisa, segundo Lavareda, fica claro que, à medida que Lula perde pontos, eles são transferidos para os potenciais candidatos do PSDB. Assim, o eleitor está deixando presentes de Papai Noel para Alckmin e, principalmente, para Serra.
Serra ganha de Lula até no segmento mais baixo da escala de renda, os que ganham até um salário mínimo (37% a 35%), principais beneficiários dos programas sociais do governo. No segmento que ganha entre 2 e 5 salários mínimos, a diferença é enorme – 40% a 27%. Nas regiões, Serra só perde para Lula no Nordeste (42% a 33%). Lula perde em todos os segmentos de renda e geográficos, com exceção do Nordeste. As maiores vantagens de Serra são no Sul e em cidades do interior.
Na simulação de segundo turno com Serra, Lula conserva apenas 54% dos seus eleitores de 2002, enquanto Serra preserva 90% de seus eleitores de três anos atrás; 32% dos eleitores de Lula dizem que hoje votariam em Serra.
Os porcentuais alcançados por Lula nas simulações de primeiro turno são os mais baixos desde janeiro de 2003. A nova rodada da pesquisa CNI/Ibope foi a campo entre os dias 3 e 7 de dezembro e consultou 2.002 eleitores brasileiros de 143 municípios, com margem de erro de 2 pontos porcentuais.
