Brasília – O vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), propôs ontem, na tribuna do plenário da Casa, que todos os ministros do partido renunciem aos cargos, com exceção do da Fazenda, Antônio Palocci. Tião Viana sugeriu ainda que, num prazo de 60 dias, se faça um levantamento de todos os filiados da legenda em cargos públicos para que sejam substituídos por funcionários de carreira. "Será uma demonstração de apoio do Partido dos Trabalhadores ao governo Lula, independentemente de cargos", disse.
Ele justificou a ação afirmando que se deve demonstrar que a sigla honra o motivo da criação, que foi o restabelecimento da ética na política. "Temos de agir como um todo, e não deixar recair culpa sobre um ou outro", afirmou, citando o chefe da Casa Civil, José Dirceu. O vice-presidente do Senado sustenta que a agremiação tem o dever de agir no momento em que é acusada de envolvimento com a corrupção. Tião Viana, afirmou que faz a proposta em caráter pessoal e que não consultou a bancada nem o presidente nacional do partido, José Genoino. O vice-presidente do Senado reafirmou que Palocci não tem a credibilidade questionada.
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que participou das CPIs que levaram ao impeachment do presidente Fernando Collor e à cassação de 10 parlamentares por corrupção na CPI do Orçamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa "agir rápido e passar das palavras à ação, se não quiser perder totalmente a credibilidade, pois as denúncias estão atingindo sua figura". Na opinião do senador, a situação do ministro da Casa Civil José Dirceu "ficou insustentável". Simon disse que as denúncias apontam para ele, pois, segundo o deputado Roberto Jefferson, "as reuniões em que eram decididas as mesadas aos parlamentares da base de apoio aconteciam numa sala ao lado do gabinete de Dirceu, no Palácio do Planalto".
Na avaliação de Simon, o equívoco do governo foi conferir demasiada importância à base aliada, "chegando ao ponto de comprar votos, segundo as denúncias; algo que, aliás, o governo FHC também fazia, como aconteceu com a votação da reeleição".
O líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio Neto (AM), elogiou de Tião Viana. "O senador Tião Viana falou como verdadeiro defensor do governo federal", disse Virgílio Neto. Disse, ainda, que este deve ser "o papel de qualquer petista leal a Lula colocar a crise longe do presidente. O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) também apoiou a proposta do petista Tião Viana. O senador goiano foi mais longe: sugeriu que não só os ministros do PT, mas toda a equipe ministerial entregue o cargo ao presidente da República. Desta forma, disse Torres, o presidente Lula teria condições de fazer as modificações necessárias em seu governo. "O presidente tem que ter coragem de colocar para fora de seu governo a banda podre que está levando seu governo de roldão", disse ele.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que a proposta de afastamento de petistas que ocupam cargos de confiança no serviço público "merece ser seriamente estudada", mas afirmou que se faz necessário estabelecer um tempo para que os servidores de carreira ou de concursos públicos pudessem se adequar a estas funções.
Empresário acusado se apresenta
Brasília – O empresário Arthur Washeck Neto, acusado de ser o mandante da gravação que deu origem às denúncias de corrupção nos Correios, se apresentou na tarde de ontem à Polícia Federal. O delegado responsável pelo caso, Luiz Flávio Zampronha, deve mandar uma intimação a Washeck Neto para que ele preste depoimento. O advogado do empresário, Paulo Ornelas, afirmou que seu cliente entregou a fita à diretoria dos Correios logo que soube da gravidade dos fatos. "Tão logo foi gravada, Arthur sentiu a gravidade do caso e encaminhou à diretoria da empresa." O advogado não revela, porém, a quem a fita teria sido entregue.
Ornelas disse ainda que quem encaminhou a fita à imprensa, sem a autorização de Washeck Neto, foi Jairo Souza Martins – que teria sido contratado pelo empresário para fornecer a maleta com o equipamento da gravação. "Ele jamais entregou ou vendeu esse fita à imprensa e nunca deu aval para que Jairo a entregasse", afirmou o advogado. A Polícia Federal deve pedir a prorrogação das prisões dos envolvidos no suposto esquema de corrupção nos Correios.
Prisão
A Polícia Federal pediu ontem a prorrogação por mais cinco dias das prisões do ex-agente do Serviço Nacional de Informação (SNI) José Fortuna e do militar reformado da Marinha Arlindo Molina. Os dois são suspeitos de participar do suposto esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
O procurador da República Bruno Acioly acompanhou o depoimento de Molina e disse que o militar "não tem se mostrado muito disposto a colaborar com as investigações e uma acareação entre ele e o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) pode ser realizada nos próximos dias". Ele ressaltou que o parlamentar não está sob investigação e que seria convidado a comparecer à acareação como testemunha. De acordo com o advogado de Molina, Osmar Ferreira de Paiva, seu cliente propôs ao delegado Luiz Flávio Zampronha falar tudo o que sabe sobre Roberto Jefferson, em troca da liberdade, mas o delegado não concordou. "Molina detonaria Jefferson se fosse solto", afirmou.
A PF também divulgou a mala usada na gravação do ex-chefe dos Correios (ECT), Maurício Marinho.
"Não deixaremos pedra sobre pedra"
Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou ontem, em seu programa quinzenal de rádio, as denúncias de corrupção nos Correios e no Congresso, envolvendo aliados do governo e integrantes do PT. Lula disse que vai investigar todas as denúncias de corrupção no país. "Nós estamos fazendo aquilo que é o papel do Poder Executivo. Tem o papel da Justiça, tem o papel da polícia, tem o papel do Ministério Público, mas naquilo que for pertinente à ação do Poder Executivo, nós não deixaremos pedra sobre pedra, iremos investigar", afirmou, no programa de rádio Café com o Presidente.
Lula voltou a dizer que se preciso irá "cortar na própria carne". Ele afirmou que seu governo está combatendo a corrupção e lembrou que a Controladoria-Geral da União já encaminhou três mil processos para o Tribunal de Contas da União sobre uso irregular dos recursos do governo federal repassados aos municípios e estados, além das 1.200 prisões feitas pela Polícia Federal envolvendo policiais, políticos e juízes.
Ao comentar sua resolução em combater com firmeza a corrupção, Lula falou sobre sua mãe: "Eu sou filho de uma mulher que morreu aos 64 anos analfabeta e que ela dizia para mim sempre o seguinte: o que um homem não pode perder é o direito de andar de cabeça erguida". O presidente disse que não se pode deixar, no entanto, que as investigações paralisem o Congresso. "Eu conversei com o presidente Severino (presidente da Câmara dos Deputados), conversei com o presidente Renan (presidente do Senado). É preciso apurar tudo. Agora, é preciso que a gente tome cuidado para não deixar que o Congresso fique só cuidando disso e não aprove as coisas que têm que ser aprovadas, de interesse do Brasil".
Lula reconheceu o "papel importante" da imprensa na divulgação das denúncias, mas fez uma crítica aos meios de comunicação, dizendo que "gostaria as publicações tivessem nomes de pessoas, tivessem nomes de empresas porque, aí, fica muito mais fácil a investigação". Lula disse que fica indignado com a corrupção.
"Como pai de cinco filhos, fico indignado quando fico sabendo que da corrupção se extrai o dinheiro que poderia estar ajudando a desenvolver este país, a fazer mais Bolsa Família, a colocar mais gente na escola. Agora, as pessoas têm que ter paciência, porque não é o presidente da República que pode colocar alguém na cadeia. Quem coloca alguém na cadeia é a Justiça, porque eu sei que no meio do povo de vez em quando as pessoas falam, e eu falava isso quando era dirigente sindical, ‘o presidente tem que prender’. O presidente não pode prender porque não é o papel dele.
O presidente disse ainda que está dedicado a colocar um fim na corrupção.
Lula estuda a saída de Dirceu
Brasília – A proposta do vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), de que os ministros petistas renunciem aos cargos – à exceção do da Fazenda, Antônio Palocci – foi rejeitada quase que imediatamente na Câmara pelos líderes do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do partido, Paulo Rocha (PA). Chinaglia afirmou que "não é hora de renúncia coletiva, pois enfraquece o governo." Em relação aos rumores de que o chefe da Casa Civil, José Dirceu, deixaria o ministério, o líder do governo na Câmara declarou: "Quem pode e deve falar a respeito é o presidente. Se eu for fazer uma análise como militante, acho que o ministro deve continuar, principalmente neste momento".
No entanto, crescem os rumores de que Lula estaria estudando a saída de José Dirceu do governo e sua volta à Câmara de Deputados. Lula e Dirceu se reuniram na Granja do Torto na noite de domingo e ontem à tarde, quando discutiram a crise política em torno da CPI dos Correios e das denúncias de pagamento de mesada a governistas na Câmara, que respingam no ministro.
Dirceu voltaria à Câmara para reforçar a coordenação política no Congresso e defender a si e ao PT das acusações do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson. A mudança teria sido proposta pelo próprio Dirceu e decisão sobre sair ou não do governo estaria nas mãos do ministro.