Brasília (AE) – O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) acusou ontem o presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva de tentar ?cooptar? a oposição para montar o governo de coalizão. ?Governo sem oposição é ditadura?, advertiu, na tribuna, um dia depois de Lula pedir aos adversários que deixem para fazer oposição apenas em 2010. Afinado com o discurso do PSDB, Buarque alertou para o ?perigo? de um mandato sem oposição.
?Não há democracia em que todos apóiem o governo, por mais santo, melhor e eficiente que seja o governo?, afirmou, acrescentando, porém, que concorda com a iniciativa do presidente reeleito de buscar um diálogo com a oposição. Na terça-feira (28), Lula receberá no Palácio do Planalto o presidente nacional do PDT, Carlos Luppi, e outros líderes da legenda. O senador do PDT do Distrito Federal não participará do encontro e adiantou que não acredita na inclusão da sigla na aliança partidária.
Para Buarque, o ?diálogo é fundamental, mas a cooptação é perigosa?. ?Não há bom governo sem uma boa oposição. Esse é o espírito da democracia?, disse. Ele indagou se o desejo de Lula de ficar sem oposição nos próximos quatro anos não seria uma manobra para ter um terceiro mandato. Pelo raciocínio de Buarque o presidente apoiaria o fim da reeleição e entraria com um recurso à justiça para disputar a eleição como se fosse um novo mandato.
?Acho que Lula está querendo unanimidade. Mas não estamos em guerra contra outro país. A democracia precisa de oposição?, insistiu. ?Às vezes, caminhamos para o autoritarismo não deliberadamente, mas por diversos equívocos e por falta de alguém que nos alerte. Espero que o presidente tenha pessoas para alertá-lo. Ele comete um grave erro na idéia de que não deve ter oposição em 2010. Deve ter oposição diária, sistemática e responsável em favor do Brasil?, prosseguiu.
Buarque disse ainda que há três anos sugeriu a Lula que abrisse diálogo com a oposição. O senador do PDT lembrou que, também na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, fez sucessivas intermediações para que o atual presidente se encontrasse com ele ainda na primeira administração.