Um terreno de 2 milhões de metros quadrados da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) foi invadido às margens do novo trecho do Rodoanel Leste, entre os quilômetros 126 e 128, na Grande São Paulo. A estimativa dos invasores é de que haja pelo menos 7 mil famílias no local. A CDHU já obteve liminar para a reintegração de posse. Reuniões entre a companhia, a Polícia Militar e representantes dos moradores estão marcadas para esta semana para discutir a possibilidade de desocupação voluntária.
O terreno está na área de três municípios: Itaquaquecetuba, Guarulhos e Arujá. Parte é de preservação ambiental. A vegetação, prioritariamente de eucaliptos, foi derrubada recentemente. Os invasores negam a intervenção.
A CDHU informou, por meio de nota, que tentou “por diversas vezes uma desocupação voluntária, em reunião com os invasores do terreno”. Disse ainda que parte da área estava destinada à construção de moradias para famílias cadastradas em programas habitacionais do governo. Não detalhou, no entanto, quando a obra teria início.
A advogada que representa os invasores, Angela Quirino, diz que foi tentada negociação com a CDHU, que teria oferecido 1 mil vagas em conjuntos habitacionais para que os invasores deixassem o terreno. Eles recusaram a proposta.
Estranhos
O terreno foi cercado pelos invasores. No portão, um vigia impede a entrada de estranhos. “Não é qualquer um que vai passando. Não sabemos o que podem querer aqui”, contou o líder comunitário Rafael do Nascimento, de 28 anos.
De acordo com Nascimento, que está desempregado, um grupo de 12 homens foi responsável por dar início à invasão e começar a montar os barracos. “Viemos de vários municípios e também de bairros de São Paulo, como Jardim Brasil, Cachoeirinha e Parque Novo Mundo (na zona norte). Está impossível pagar aluguel”, contou.
Para lidar com as famílias que não paravam de chegar, Nascimento criou uma associação para representar os moradores. Quem chega precisa fazer um cadastro com carteirinha em que constam nome completo, título de eleitor e o número de algum documento, como RG. O líder nega que participe de movimentos políticos. “Aqui somos só nós por nós mesmos. Nenhum político quis ajudar.” Não há no local bandeiras de movimentos sociais.
Os barracos com melhor estrutura são feitos com folhas de madeirite e o banheiro é improvisado em fossas. O teto é coberto por telhas, mas nas novas barracas os moradores usam lona e sacos de lixo. A eletricidade é puxada de postes dos bairros vizinhos em Arujá. Já a água vem sendo retirada de um poço feito pelos próprios sem-teto.
Enquanto esperam a decisão sobre a desocupação, os invasores comemoram a “melhora de vida”. “O dinheiro que eu usava para pagar o aluguel, hoje gasto com comida”, contou o desempregado Desio Avelino, de 49 anos. Ele, que vive com a mulher, Lucieneide Pereira, de 45 anos, disse que foi atropelado, perdeu os movimentos de uma das mãos e anda com dificuldade. “Recebo um auxílio do governo, mas tenho de pagar contas para 13 pessoas na minha família. A gente estava passando fome”, disse. “Custou pelo menos R$ 2 mil para erguer o nosso barraco. Mas já está bem melhor do que antes.”
Outro barraco que começou a ser montado recentemente é o do pedreiro Marcelo Rosa, de 46 anos. Ele disse não ter condições de pagar o aluguel e se mudou com a mulher e os dois filhos para a invasão. Pagavam R$ 500 pelo aluguel em Guarulhos. “Para sobreviver é um sacrifício danado.”
A reportagem tentou contato com as prefeituras de Arujá, Itaquaquecetuba e Guarulhos, mas não houve resposta.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.