Com uma pastinha verde sob o braço, o sem-terra Ivanir Queiroz de Mendonça Filho saiu de casa na cidade de Apuí, no Amazonas, há uma semana rumo a São Paulo com uma dura missão: entregar, pessoalmente, as reivindicações do assentamento onde vive, o Juma e Acari, à beira da Transamazônica, ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, o assentamento, que não é ligado ao Movimento dos Sem-Terra (MST), é o maior da América Latina, com 36 mil famílias.
Na pasta, Ivanir afirma ter documentos que comprovam irregularidades na administração do Incra no Juma e Acari. “Há pessoas mortas ainda constando entre os assentados que recebem dinheiro do governo”, disse. Além disso, já houve casos denunciados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de tortura e assassinato de líderes sem-terra por policiais. “Precisamos que o Lula nos ajude a moralizar o assentamento.”
Ivanir mostra também fotos do assentamento, retratos de crianças doentes e postos de saúde sem medicamentos. Segundo ele, Apuí tem um dos maiores índices de malária do País. “Há três cemitérios mas nenhum hospital”, contou. “Já ocorreu de uma família de uma criança morta ter de esperar três dias para o corpo ser levado pela ambulância”, afirmou.
Na quinta-feira, Ivanir falou com Lula no hotel onde o presidente eleito passou o dia. E hoje, na porta da casa de Lula, Ivanir conseguiu lhe entregar uma carta da comunidade. “Fizemos uma vaquinha para pedir a ajuda do senhor”, diz a carta. Ivanir seguiu para o Comitê na esperança de reunir-se com o presidente eleito mas não teve sucesso -, foi atendido por dois assessores. Mas o sem-terra permanece esperançoso. “Não vim de tão longe para desistir. Tenho certeza que o Lula vai nos ajudar.”