Sem terra invadem Ministério da Fazenda

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Sede do Ministério da Fazenda durante
a ocupação pelos sem terra, ontem.

Brasília – No Abril Vermelho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), quem tomou de assalto ontem a sede do Ministério da Fazenda foi o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), uma organização mais nova e menor. Os manifestantes invadiram o prédio, reivindicando a liberação dos recursos para a reforma agrária que foram cortados do orçamento da União este ano. Eles acusaram o governo de privilegiar o agronegócio em detrimento dos trabalhadores rurais e pediram a anistia das dívidas dos assentados.

Depois de seis horas de ocupação sem violência e duas de negociação com representantes do governo, o grupo deixou o prédio sem ter nenhum pedido atendido. Conseguiu apenas a promessa de que será marcada audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, para discutir a reforma agrária.

Para o comando do MLST, cerca de 1.200 pessoas participaram da invasão. A Polícia Militar calcula que foram 500. ?A ocupação foi um sucesso. Conseguimos chegar ao 7.º andar sem um vidro quebrado?, comemorou um dos líderes, Bruno Maranhão, que é do diretório nacional do PT. ?A decisão de invadir a Fazenda é emblemática, porque é um ministério que segura o dinheiro.?

Ação rápida

Faltava pouco para o meio-dia quando integrantes do MLST que protestavam na Esplanada dos Ministérios correram até o prédio da Fazenda e o invadiram. Alguns tomaram conta de imediato da porta de entrada, impedindo a reação dos homens da empresa privada que faz a segurança do prédio.

Os líderes do MLST comunicaram ao Planalto que o prédio tinha sido invadido e pediram que ?evitasse a polícia?. Os elevadores foram desligados, mas o grupo alcançou os outros andares pela escada de incêndio. O alvo principal era o gabinete de do ministro Antônio Palocci, no 5.º andar, que logo foi ocupado. Só houve tempo para proteger sua sala particular. No 4.º andar, a reação foi mais organizada: funcionários montaram uma barricada e impediram a passagem até o gabinete do secretário-executivo do ministério, Bernard Appy.

Todo o prédio ficou cheio de papéis, garrafas vazias de água e restos de comida espalhados pelo chão. Palocci, que estava em São Paulo, era o alvo das palavras de ordem. ?Arroz, feijão, Palocci é um ladrão?, gritavam os manifestantes, enquanto batiam nas paredes e iam ocupando os andares.

?Palocci é uma decepção para o País?, disse Davi Pereira da Silva, líder do MLST. ?Palocci está conseguindo pôr o presidente Lula num buraco sem fundo?, reclamou. ?Com os recursos liberados (no orçamento), não é possível assentar nem 40 mil famílias.? Em manifesto distribuído na ocupação, o MLST defende Rossetto. Mas ataca Roberto Rodrigues (Agricultura) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento e Comércio Exterior) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Senadores criticam ocupação

Brasília – Senadores do governo e da oposição condenaram a ação de representantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) que invadiram ontem o prédio do Ministério da Fazenda. O líder do PT na Casa, Delcídio Amaral (MS), disse que a atitude dos sem terra ?é absolutamente condenável, uma vez que existem muitos foros para discutir o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário e o descontingenciamento de verbas orçamentárias?.

Delcídio Amaral destacou, entretanto, a atitude serena com que as autoridades do Ministério da Fazenda reagiram à invasão do prédio. Num relato aos parlamentares, após tomar conhecimento da situação por telefone, o senador disse que técnicos da Fazenda reuniram-se com os líderes do MLST, para discutir questões como a reestruturação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e recursos para a implementação da reforma agrária no País.

O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse que atitudes como esta só tendem a aprofundar a tensão entre governo e movimentos sociais, principalmente se o Executivo não reagir a atitudes como a invasão de prédios públicos. ?A crise vai continuar a aumentar, se providências não forem tomadas?, afirmou o senador. Ele criticou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ?que tem a Polícia Federal sob seu comando?, por não ter tomado uma atitude contra a invasão do prédio da Fazenda. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), não poupou de críticas os representantes do movimento. Segundo ele, ?o MLST é uma currutela do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) que se diz revolucionário e zapatista?.

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