Sem terra acampam em Brasília

Marcha dos sem terra passa pelo
Memorial JK, ontem, em Brasília.

Brasília – A Marcha Nacional pela Reforma Agrária, que reúne mais de 12 mil pessoas, chegou ontem, por volta do meio-dia ao Estádio Mané Garrincha, em Brasília, onde os sem terra ficarão acampados até hoje, quando haverá o ato de encerramento em frente ao Congresso Nacional. Na chegada ao Mané Garrincha, os sem terra fizeram uma homenagem à Polícia Rodoviária Federal e João Pedro Stédile, um dos principais líderes do Movimento dos Sem Terra (MST), agradeceu aos 35 policiais que acompanharam a marcha e garantiram a segurança dos manifestantes.

Stédile entregou ao superintendente da PRF em Brasília, Alex Fonseca, brindes do MST como bonés e camisetas, uma delas endereçada ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, com os dizeres: ?Eu sou amigo do MST?. Em seu discurso, Stédile pediu palmas para a PRF e disse que sem os policiais a marcha não teria ocorrido com a segurança registrada e disse:

?Podemos dizer que os policiais rodoviários se comportaram como verdadeiros servidores públicos porque serviram ao povo?, discursou o líder o MST.

No momento em que entregou os brindes, Stédile chamou o superintendente da PRF de ?companheiro Fonseca? e disse que os sem terra estavam profundamente orgulhosos da Polícia Rodoviária Federal. O líder do MST aproveitou para pedir reajuste salarial para os policiais rodoviários e estendeu o pedido para os militares. As duas categorias estão em campanha salarial. Stédile entregou uma mochila do MST para cada um dos 35 policiais que acompanharam a manifestação.

O superintendente da PRF também fez um discurso em cima do carro de som do MST, agradeceu às palavras de Stédile e disse que os sem terra estão no direito de manifestação e desejou-lhes boa sorte nas reivindicações.

Em seu discurso, Stédile também elogiou o governo Lula, que segundo ele teve a ?coragem de enfrentar o latifúndio de Roraima ao demarcar a terra indígena Raposa Serra do Sol?. Às 16h de hoje, um grupo de 50 sem terra vai se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.

Reivindicações

Os 12 mil participantes da Marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) têm quatro principais reivindicações a apresentar ao governo hoje: a reestruturação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); o cumprimento do Plano Nacional de Reforma Agrária; a criação de uma linha de crédito especial; e mudanças na definição de terra improdutiva para desapropriação. Os sem terra argumentam que a defasagem de funcionários no Incra, que é de 4 mil pessoas, dificulta a reforma agrária. Para eles, a reestruturação vai agilizar o processo. Sobre a promessa do governo de assentar 430 mil famílias até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o MST lembra que está longe de ser viabilizada. Até agora, segundo o movimento, foram assentadas 60 mil famílias e faltam 370 mil para os 20 meses restantes de governo. Em relação à criação de uma linha especial de crédito para os assentados, os sem terra criticam a burocracia das atuais linhas de crédito, o que acaba impedindo o acesso dos pequenos agricultores aos financiamentos. No que se refere à última reivindicação (da mudança no índice definido para caracterizar a produtividade das fazendas), o MST argumenta: o índice foi fixado em 1975 pela última vez e, desde então, houve muitas inovações tecnológicas, o que influencia na classificação de terra improdutiva.

Recorde de participantes

Brasília – Os preparativos para a Marcha Nacional pela Reforma começaram no dia 28 abril, quando cerca de mil integrantes do MST ocuparam 12 praças de pedágio de rodovias no Paraná. No dia seguinte, manifestantes do Rio de Janeiro e do Espírito Santo fizeram uma missa ecumênica no Cristo Redentor. Em Londrina, militantes do Paraná também fizeram um ato ecumênico. No dia 2 de maio, mais de 12 mil pessoas, entre estudantes, religiosos, membros de outros setores sociais e até simpatizantes da causa de outros países, começaram a marcha, partindo de Goiânia para Brasília. O objetivo da caminhada é cobrar maior agilidade do governo federal na execução da reforma agrária. Ao todo, a marcha reuniu 12.272 pessoas, um recorde para o MST. A última caminhada organizada pelo movimento, em 1997, reuniu pouco mais de mil militantes. Durante os 14 dias, os militantes caminhavam em três colunas de cinco horas diárias. Na parte da tarde e durante a noite, eram realizados debates políticos e culturais. Os integrantes da marcha ainda assistiam a filmes e a peças de teatro.

Durante os 200 quilômetros percorridos na rodovia BR-060, o MST não poupou recursos. Foram usados 60 caminhões, 300 ônibus e 100 banheiros públicos. Pelo menos, 1.500 integrantes do movimento foram mobilizados para os serviços de cozinha, segurança, saúde, distribuição água e montagem das barracas. Foram consumidos mais de 250 mil litros de água por dia, transportada por sete caminhões-pipa, cedidos pelo governador de Goiás, Marcone Perilo (PSDB).

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