Sem contar desmatamento, emissões de gás estufa só crescem

Apesar de as emissões de gases estufa totais do Brasil terem caído nos últimos anos, por causa da redução das taxas de desmatamento na Amazônia, quando esse fator é excluído do cálculo o cenário fica bem menos promissor. A contribuição de todos os outros setores, principalmente agropecuária e energia, só tem aumentado. De 1990 a 2013, as emissões totais, excetuando-se as provocadas pela mudança de uso do solo, quase dobraram. Considerando um período um pouco maior – desde 1970 -, as emissões de energia quase quadruplicaram. Já as da agropecuária cresceram 2,6 vezes.

Os dados, divulgados nesta terça-feira, 11, fazem parte de novo levantamento do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), plataforma criada pelo Observatório do Clima. É a primeira vez que se compararam as emissões das últimas quatro décadas. A análise sugere que, mesmo se o desmatamento continuar a cair, o aumento das emissões dos outros setores pode inverter a curva de queda e colocar em ascensão as emissões totais do Brasil.

Para o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do Seeg, esse é um alerta importante no momento em que o governo federal prepara sua proposta de redução de emissões que será apresentada para a Convenção do Clima da ONU. Todos os países do mundo têm de entregar suas metas até 1º de outubro, tendo em vista a Conferência do Clima de Paris (COP-21), que ocorre em dezembro. Lá terá de ser finalizado um novo acordo, válido para todas as nações, que terá o objetivo de reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas. O objetivo é impedir que o aumento da temperatura supere a marca de 2°C.

Em 2013, o Brasil emitiu 1,56 gigatoneladas (Gt) de gás carbônico equivalente. O nível máximo do País tinha sido atingido em dois momentos, em 1995 e em 2004, quando as emissões chegaram a 2,8 Gt – na ocasião, o desmatamento respondia por mais de 70% do total. Hoje equivale a cerca de 35%. Já a energia, que contribuía com 10% em 2004, saltou para 29%.

“As emissões brasileiras podem ser observadas em dois grandes momentos. Elas sobem a partir de 1990 até 2004, quando começam a cair, porque o desmatamento diminui”, diz Azevedo. “Agora, quando olhamos as emissões sem o desmatamento, é uma coisa só. Desde 1970, vêm crescendo continuamente. A cara das nossas emissões fica mais feia. Por essa lente, nossas emissões quase dobraram desde 1990.”

Energia

A pesquisa destaca um aumento de 8% que houve nas emissões totais de 2012 a 2013, que ocorreu em parte porque o desmatamento voltou a subir naquele ano, mas também porque o setor de energia emitiu 8% mais. Principalmente porque o País teve de ligar mais usinas termoelétricas “Considerando só emissões da eletricidade, causadas pelas térmicas, o aumento das emissões equivale a todas as emissões de ônibus do Brasil”, compara Azevedo.

De acordo com Azevedo, pelo menos até 2020, as emissões nacionais devem comportar-se dentro da meta estabelecida pelo Brasil em 2009 de redução de 36% a 38%. O problema é como vai ser dali para frente. “O Brasil vai cumprir essa meta, mas com as emissões totais crescendo”, diz o pesquisador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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