Se não chover o suficiente para encher parte dos reservatórios, os 2,95 trilhões de litros acumulados nas reservas técnicas das quatro represas que abastecem a região metropolitana do Rio de Janeiro só duram até outubro, avaliam técnicos do setor hídrico ouvidos pela reportagem.
Na segunda-feira (26), depois que o segundo reservatório da bacia do Rio Paraíba do Sul atingiu o volume morto, a Agência Nacional de Águas (ANA) informou, em nota oficial, que “o mesmo deve ocorrer nos próximos dias nos demais reservatórios”. Essas duas represas, de Jaguari e Funil, operavam nesta terça-feira com apenas 1,72% e 3,77% da capacidade do volume útil, respectivamente.
“Se não chover e for mantida a vazão mínima atual de 140 metros cúbicos por segundo na Estação Elevatória de Santa Cecília, temos mais 250 dias”, afirmou o coordenador do Instituto de Mudanças Globais da Coppe/UFRJ, Marcos Freitas, referindo-se aos volumes mortos dos quatro reservatórios. Ele ressalvou, porém, que ainda não se sabe a quantidade total que poderá ser aproveitada dessas reservas técnicas. A maior delas é a de Paraibuna, que acumula 2,1 trilhões de litros, seguida por Jaguari (443 bilhões de litros), Funil (282 bilhões de litros) e Santa Branca (131 bilhões de litros).
Ex-diretor da ANA no período 2001-2004, Freitas avalia que o racionamento deveria ser adotado “o quanto antes” no Estado do Rio. “Os governos foram adiando, por causa da eleição, mas um racionamento é muito melhor do que um corte brusco, que será necessário se o cenário atual se mantiver. Acho que deveria ter. Minas já esta fazendo. É muito melhor deixar de tomar dois banhos do que não tomar nenhum.”
O professor diz que campanhas para redução do consumo de água precisam entrar na agenda, aproveitando a crise para mudar hábitos. Ele também defende descontos para quem consome menos e sobretaxas para quem consome mais. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), porém, continua afirmando que tanto o racionamento como uma mudança no modelo de cobrança não são necessários. Freitas também defendeu mais investimentos na despoluição dos rios e redução das perdas no sistema de abastecimento, que chegam a quase 40%. “Não dá mais para ficar usando água para diluir esgoto”, disse ele.
A vice-presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), Vera Lúcia Teixeira, concorda com a avaliação de que os volumes mortos acabam antes do fim do ano se a estiagem for mantida. “O ministro de Minas e Energia disse que Deus é brasileiro e vai mandar chuva, mas quem manda chuva são as florestas, é um processo. Deveríamos aproveitar a crise para começar a resolver questões como o saneamento dos rios e o reflorestamento da bacia, que está devastada”, disse Vera.
Ela também defende o racionamento. “Já passou da hora de entrarmos em processo de racionamento. A população precisa saber o que está acontecendo e ser estimulada a economizar. O volume morto dos quatro grandes reservatórios é uma reserva estratégica que só deveria ser usada em último caso. Não dá para usar sem achar que isso não vai ter consequência no futuro.” Segundo Vera, o reservatório da represa de Ribeirão das Lajes, em Piraí, apontada pelo governo como opção em caso de emergência, abasteceria a capital por apenas uma semana.