“Severa degradação das condições humanas básicas, incluindo alimentação, água limpa, condições sanitárias, saúde, habitação, educação e informação.” São nessas condições, consideradas de “absoluta pobreza”, que vivem quase 6 milhões de crianças brasileiras, segundo pesquisa publicada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Unicef.
Brasília – Esse número representa 10% da população infantil do Brasil, que já chega a quase 60 milhões de crianças. A pesquisa ainda mostra que 15% das crianças brasileiras vivem sem condições sanitárias básicas. As áreas rurais do Brasil concentram a maioria das crianças carentes, com 27,5% delas vivendo em “absoluta pobreza”. Nas áreas urbanas, esse número representa 4,3% da população infantil. Mais de 1,3 milhão sofre com problemas alimentares no Brasil como desnutrição e até mesmo fome.
Ao todo, de acordo com o Unicef, mais de um bilhão de crianças estão sofrendo com a pobreza, o que significa mais da metade da população infantil do mundo, que chega a quase 2 bilhões de crianças. O item não leva em conta apenas a renda familiar, mas também o acesso a serviços sociais. O estudo revelou, por exemplo, que uma em cada três crianças no mundo vive em casas com chão de terra batida, com mais de cinco pessoas ocupando cada cômodo.
A pesquisa ainda mostra que uma em cada cinco crianças do mundo não tem acesso ao consumo de água potável. O estudo foi baseado na análise de dados coletados no final da década de 90, compreendendo 1,2 milhão de crianças em 46 países, o que, segundo o Unicef, representa a maior pesquisa já realizada sobre o assunto. O trabalho também levou em conta os efeitos da pobreza na vida das crianças.
Alguns números da pesquisa: mais de meio bilhão de crianças (cerca de 31% do total da população infantil no mundo) não tem acesso a condições sanitárias (banheiros); quase meio bilhão de crianças (cerca de 25% da população infantil do mundo) tem acesso precário a informação, como rádio, televisão, telefones ou jornais em casa; mais de 20% das crianças no mundo (quase 376 milhões) precisam caminhar mais de 15 minutos para ter acesso a água ou estão utilizando água imprópria.
Um outro estudo divulgado ontem e chamado “Cidadania e Proteção contra o Trabalho Precário: a Experiência de São Paulo”, revela que cerca de 3 milhões de crianças entre 5 e 15 anos trabalham hoje em dia em todo o País. O estudo foi apresentado quarta-feira pela coordenadora do Programa Bolsa Trabalho, da Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, Dulce Helena Cazzuni, no 1.º Congresso Internacional sobre o Direito da Criança.
Um agravante apontado pelo estudo é a remuneração dessas crianças. A renda per capita das famílias que possuem crianças trabalhando é cerca de 50% da renda per capita familiar média no Brasil.
Corrupção barra 50% do investimento
Washington
– O Brasil receberia o dobro de investimentos se fosse um país menos corrupto e menos burocratizado, afirma o ex-assessor do Banco Mundial Shang-Jin Wei. “A corrupção é um grande problema (para os investimentos) e, em altos níveis, anula vantagens como benefícios fiscais”, afirma Wei, atualmente membro do Brookings Institution, um influente centro de formulação de políticas de Washington.A conclusão é baseada nos trabalhos de Wei sobre o impacto da corrupção nas decisões de investidores internacionais e que serão publicados no seu livro Corrupção e Globalização, que deverá ser lançado pela editora do Brookings Institution. “Assim como a Rússia, o Brasil recebe poucos investimentos diante do seu potencial econômico”, afirma Wei. A avaliação é confirmada pelo diretor de um dos principais bancos de investimentos internacionais.
“No Brasil, rejeitamos cerca de metade das oportunidades de negócio por causa de problemas com corrupção”, afirma o representante do banco, que não quis ser identificado. Apesar deste quadro, empresas como a Control Risk afirmam que a imagem do Brasil no que diz respeito à corrupção vem melhorando no Brasil desde 1990, ano do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. O fato de o PT ter se envolvido em poucos escândalos quando estava à frente de prefeituras também faz com que o partido tenha uma boa reputação entre investidores. Em São Paulo, a dobradinha Marta Suplicy-Geraldo Alckmin estaria melhorando a fama do Estado.
