O desaparecimento em série de rapazes nas últimas semanas alterou a rotina e deixou em pânico a população de Luziânia, cidade goiana do entorno do Distrito Federal, a 66 quilômetros de Brasília. Em menos de um mês, foram seis sumiços misteriosos de meninos entre 13 e 19 anos, moradores da periferia. Todos desapareceram de dia, após realizarem atividades de rotina. As autoridades avaliam até a hipótese de retardar o início das aulas, marcado para 2 de fevereiro, nos bairros em que o medo é maior.
O Ministério Público considera a situação grave e não descarta a hipótese de que haja um grupo de extermínio agindo na região. “Não é a primeira vez que esse tipo de violência contra jovens atinge essa região, e eu temo que não seja a última”, disse o promotor de Justiça Ricardo Rangel de Andrade. A Polícia Civil afirma que a situação está sob controle e fez um apelo para que a população evite pânico. Ontem, peritos começaram a montar os retratos falados de quatro suspeitos que estariam com algumas vítimas pouco antes dos sumiços.
O primeiro a desaparecer, em 30 de dezembro, foi Diego Alves Rodrigues, de 13 anos. Pouco antes das 10 horas, ele saiu de casa no bairro Estrela Dalva, onde mora a maioria das vítimas, para ir a uma oficina de carros, e não foi mais visto. No dia 4, no mesmo horário, foi a vez de Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, de 16 anos, desaparecer. George Rabelo dos Santos, de 17 anos, sumiu no dia 10. Três dias depois, foi a vez de Divino Luiz Lopes da Silva, de 16 anos, desaparecer da porta de casa depois do café da manhã. No dia 18, Flávio Augusto Fernandes dos Santos, de 14 anos, foi visitar um amigo e não voltou.
A população, com o apoio da Igreja e de organizações de defesa social, realizaram uma passeata na sexta-feira para pedir providências às autoridades. Durante o ato, a polícia foi acionada sobre o sexto desaparecimento. Ajudante de serralheiro, Márcio Luiz de Souza Lopes, de 19 anos, saiu do trabalho para consertar a bicicleta no começo da tarde e, desde então, não mais foi visto.
Fuga de casa
Embora não descarte outras possibilidades, o delegado Rosivaldo Linhares, encarregado do caso, trabalha com a hipótese de rebeldia típica de adolescentes e acredita que todos estejam vivos. O núcleo de atendimento a famílias de pessoas desaparecidas da Secretaria de Desenvolvimento Social do DF, que foi à cidade ajudar nas buscas, confirma que em mais de 80% dos casos de desaparecimento os adolescentes fogem e reaparecem em até um ano. Só em pouco mais de 10% dos casos os desaparecidos seriam de fato vítimas de assassinato ou de cooptação para tráfico, trabalho escravo ou outras atividades criminosas.
A copeira Sonia Vieira de Lima, mãe de Paulo Victor, discorda do delegado. “Meu filho não era rebelde e não tinha razão para fugir”, disse. “Ele era carinhoso com a família, organizado e trabalhador.” O perfil corresponde a quase todos os desaparecidos, segundo os parentes. O delegado confirmou que nenhum deles tinha passagem pela polícia o que, a seu ver, torna o caso ainda mais “complexo e intrincado”.