Após parafrasear Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista de Adolf Hitler, o secretário especial da Cultura no governo federal, Roberto Alvim, foi demitido do cargo no começo da tarde desta sexta-feira (18). No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro disse que mesmo Alvim tendo se desculpado, era insustentável mantê-lo no cargo pelo “pronunciamento infeliz”.
“Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, como o nazismo e o comunismo, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos muitos valores em comum”, postou o presidente.
A exoneração ocorre após a polêmica que o caso criou, com a embaixada da Alemanha no Brasil se posicionando contrária a qualquer tentativa de banalizar ou glorificar o nazismo, “o capítulo mais sombrio da história alemã”, segundo nota emitida.
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O presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia (DEM) também cobrou publicamente a demissão de Alvin. O filósofo Olavo de Carvalho, mentor intelectual do governo de Jair Bolsonaro, também comentou o caso. “Roberto Alvim talvez não esteja muito bem da cabeça”, publicou Carvalho em seu Twitter.
Em entrevista à Rádio Gaúcha antes de ser demitido nesta sexta-feira (17), Alvim pediu desculpa pelo discurso, que chamou de “infeliz coincidência retórica”. “Não se pode depreender daí qualquer associação ao espúrio, nefasto e genocida ideário nazista, ao qual eu tenho repugnância”, disse na entrevista.
O caso
Em pronunciamento que foi ao ar na noite de quinta-feira (16), o secretário especial da Cultura do governo federal, o diretor de teatro Roberto Alvim, citou trechos de uma fala do ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels.
Ao anunciar a liberação de R$ 20 milhões para o Prêmio Nacional das Artes, Alvim disse que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada”.
A fala guarda sinistra semelhança com um discurso proferido por Joseph Goebbels em 8 de maio de de 1933, no hotel Kaiserhof, em Berlim, voltado para diretores de teatro. “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos [paixão, em grego] e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.
O trecho acima está relatado no livro Joseph Goebbels: Uma biografia (Ed. Objetiva), escrito pelo historiador alemão Peter Longerich, considerado uma das principais autoridades da Alemanha em Holocausto.
Quem foi Goebbels?
Goebbels foi o orador de um dos episódios mais emblemáticos do que se tornaria o nazismo nos anos seguintes, a queima de livros na Opernplatz de Berlim, na qual anunciou o fim de uma “era de um desorbitado intelectualismo judeu”. A eliminação das obras foi saudada por Goebbels como “um ato forte, grandioso e simbólico”.
No cinema alemão, o ministro de Hitler estabeleceu um sistema de financiamento do governo alemão em conjunto com bancos, mas apenas para obras que fossem criteriosamente analisadas por burocratas do Estado.
Goebbels também foi o responsável por estabelecer o confisco de obras consideradas “degeneradas”, uma forma de agradar o senso estético do Fuhrer.
Quando tentou estabelecer um critério para o que deveria ser a música alemã de qualidade, Goebbels buscou inspiração no ataque que o compositor Richard Wagner fez contra o “judaísmo na música”. A música ouvida enquanto Alvim faz seu pronunciamento é a ópera ‘Lohengrin’, de Wagner, de 1850. A música também foi usada na famosa cena em que Charlie Chaplin manipula o globo terrestre, caracterizado como Adolf Hitler, no filme O Grande Ditador.