O novo secretário estadual da Educação, João Cury Neto, avalia dar dinheiro para as famílias escolherem o transporte escolar e a merenda de seus filhos. A ideia é ter um valor para cada filho, e o pai decide como a criança vai à escola – se preferir levá-la a pé, por exemplo, poderia usar a verba para outra coisa. “Eu fico imaginando uma família em que o pai está desempregado e falo que vou dar R$ 200, R$ 300 por mês. Ele tem carro, passa a levar o filho dele e os do vizinhos e fica com dinheiro para fazer o que quiser”, diz o secretário, que é advogado e foi empossado há 15 dias.

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Além disso, Cury prepara um programa para repassar dinheiro para os grêmios estudantis usarem em pequenas reformas nas escolas. Os próprios alunos decidiriam onde por a verba. Ele ainda defende o bônus por desempenho, política do Estado que dá dinheiro aos professores de acordo com os resultados dos alunos nas avaliações, e reclama da dificuldade para implementação da reforma do ensino médio.

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Politicamente, o secretário está em situação complicada. Cury foi prefeito de Botucatu, no interior do Estado, pelo PSDB, e até abril presidia a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão ligado à secretaria, que cuida de reformas e transporte. Havia pedido para deixar o cargo para ser candidato a deputado federal, quando recebeu o convite do governador Márcio França (PSB) para assumir a Educação. Aceitou e foi expulso do PSDB. “Nunca imaginei que pudesse ser expulso por ter permanecido no governo. O governador Márcio França (PSB) não usurpou o poder”, disse.

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Como o senhor avalia a aprendizagem dos alunos? Tem havido piora no desempenho no Estado.

A trajetória aponta para um cenário favorável, mas há oscilações e temos de entender o porquê. Essa questão é algo sempre muito discutido. Não acho que tem excesso de avaliação. O que a gente precisa é interpretar muito bem as avaliações, procurar entender o que está por trás, para ter um diagnóstico que dê para a área pedagógica a capacidade de desenvolver ações para resolver com eficiência.

Isso não está sendo feito?

Está, mas temos de aprofundar. Aproveitar as avaliações para essa leitura, que é muito mais importante que a nota. Não adianta ter avaliação se depois os acúmulos de erros se tornam irreparáveis e se compromete o aprendizado. Precisa propor uma medida rápida.

São Paulo não deveria estar na frente na aprendizagem, dar o exemplo para o País? Algo que tem sido feito por Ceará e Pernambuco, por exemplo.

Devia e, de certa forma, está. Se olharmos os resultados, estamos na frente em todos os ciclos (São Paulo tem o maior Ideb – avaliação federal – do ensino médio, empatado com Pernambuco. Mas o Estado nordestino alcançou sua meta e melhorou as notas). São Paulo, ao mesmo tempo que é o mais rico, tem a maior rede, uma série de dificuldades. Orçamento alto, mas folha de pagamento alta. Nesses Estados, como Ceará e Pernambuco, a impressão que tenho é de que tem uma decisão política muito forte. Acho que isso faz toda a diferença, quando você tem alguma coisa que envolve pessoalmente a liderança. Uma forca, um compromisso grande de fazer isso uma agenda importante.

Em São Paulo não tem?

Acho que em São Paulo também teve e tem, mas aqui não há condição de ser só uma agenda. A mobilidade urbana é também muito importante. Não sei se é tão prioritário em Pernambuco e no Ceará. São Paulo tem várias agendas. Educação é uma delas.

O que o senhor acha da ideia de “vouchers”, em que a família recebe o dinheiro e escolhe onde o filho vai estudar?

Não sou completamente contrário, acho que tem de acontecer naquilo que não é atividade-fim. A gente dar o voucher para o aluno e ele ir onde quiser ou colocar uma organização social para tocar uma escola, isso tem de amadurecer ainda. Mas acho que você dar um cartão para uma mãe para ela escolher o transporte que quiser para o filho, e se ela levar o filho e quiser ficar com o recurso para outra coisa, eu não vejo nenhuma dificuldade. Não vejo nenhuma dificuldade no empoderamento da pessoa.

Mas o transporte não é função do Estado?

Preciso dar o ônibus para o aluno? Não, a lei não diz isso e, sim, que tenho de dar condições para ele chegar à escola. Faço uma pesquisa no mercado, quanto custa por mês para o aluno chegar à escola pelo transporte que ele quiser? São Paulo tem uma oferta de serviço enorme. Temos de conversar com a mãe, para ver se ela não vai achar isso uma transferência de problema. Mas se ela disser: pode me dar o dinheiro que garanto que meu filho vai chegar à escola são e salvo, e vai render. Por que não? Eu estou louco para fazer isso aqui.

Economiza recursos?

A ideia não é economizar, é dar autonomia para as pessoas decidirem. Se gerar economia, ainda melhor. Eu fico imaginando uma família em que o pai está desempregado e falo que vou dar, por filho, R$ 200, R$ 300 por mês. Ele tem um carro, passa a levar o filho dele e os do vizinhos na escola e fica com dinheiro para fazer o que quiser. A ideia do “voucher” é diminuir a tutela do Estado. O Estado não precisa ser enorme, que tutela tudo e todos. Merenda também daria, para alunos de ensino médio.

O senhor é a favor da reforma do ensino médio?

Há uma ideia de todos que precisamos fazer diferente. O modelo tradicional de uma escola formatada, pronta, já não faz mais sentido para os jovens, os professores, as famílias. Mas na implementação há muita dificuldade. Do ponto de vista logístico, quando você tem trilhas para o aluno, terá de ter espaços prontos para recebê-lo. São Paulo até pode integrar escolas ao Centro Paula Souza (órgão estadual responsável por colégios técnicos), mas imagina outros lugares. Depois, como o aluno se desloca, como a gente transporta esse aluno, quanto vai custar? Tudo isso ainda é incógnita. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.