A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo foi invadida no começo da noite desta quinta-feira, 10, por cerca de 150 manifestantes que protestavam contra assassinatos cometidos por policiais militares. O ato era sobretudo em solidariedade às famílias dos cinco jovens da zona leste mortos em condições suspeitas em Mogi das Cruzes.
O saguão de entrada da SSP, na Rua Líbero Badaró, região central de São Paulo, foi ocupado pelos manifestantes, até que o secretário Mágino Alves descesse de seu gabinete para falar com o grupo. A chegada dele, no entanto, causou um princípio de tumulto, só encerrado quando ele deixou o prédio pela porta da frente, escoltados por seguranças e policiais. Ele seguiu até um estacionamento lateral da secretaria.
O protesto havia tido início na frente da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e os manifestantes foram caminhando até a secretaria, que fica a poucos metros de distância. Eles não tiveram dificuldade em ocupar a entrada, mas um cordão de policiais, nas catracas, barrou o avanço para as dependências internas.
Inicialmente, o grupo pedia uma audiência com o secretário. “Este ato é em solidariedade às vítimas e também um protesto contra os assassinatos sistemáticos de jovens negros pela polícia de São Paulo”, disse o militante da causa negra Douglas Belchior.
Ainda no saguão, Alves sugeriu que uma comissão de militantes subisse até seu gabinete. Os ativistas, no entanto, optaram por fazer um jogral, antes de tomar uma decisão. Nesse processo, o secretário optou por não esperar e saiu.
Nessa hora, manifestantes chegaram a jogar água no secretário. O fato levou a um início de tumulto, controlado pelos manifestantes.
Após o episódio, Mágino Alves declarou que “foi a primeira e a última vez que a Secretaria da Segurança Pública é invadida”. Enquanto a manifestação prosseguia, um grande número de policiais militares se posicionou nos acessos ao prédio. Mas não houve confronto.
Belchior criticou a atitude do secretário. “Ele quis provocar um tumulto (com sua saída) para justificar uma carnificina (em referência a morte dos jovens). Mas não caímos nessa provocação”, disse o militante.
Investigação
Robson Fernandes Donato de Paula, de 16 anos, Caíque Henrique Machado Silva, Jonathan Moreira Ferreira, ambos de 18, Cesar Augusto Gomes da Silva, de 19 anos, e Jonas Ferreira Januário, de 30, desapareceram em 21 de outubro, quando iam da zona leste de São Paulo para uma suposta festa em Ribeirão Pires.
Eles foram encontrados no domingo em uma cova rasa na zona rural de Mogi. Os corpos tinham marcas de balas – e um deles foi decapitado. No local foram achados cartuchos de calibre .40 de dois lotes comprados pela PM. De acordo com o ouvidor das Polícias, Julio Cesar Fernandes Neves, o crime tem “claros sinais de execução”.
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), que vem prestando assistência às famílias, informou que os corpos deverão ser retirados do Instituto Médico-Legal (IML) nesta sexta e enterrados no sábado.
“Eles conseguiram uma reunião com a superintendência do IML, que dará mais detalhes sobre as perícias”, disse a conselheira do Condepe, Cheila Olalla. As famílias vinham solicitando a realização de uma perícia independente e a secretaria havia cogitado até um enterro como indigentes.