Depois de assistir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva prever a cassação do mandato dele na Câmara por motivos políticos, o deputado José Dirceu (PT-SP) disse ter ficado "satisfeito" com a defesa feita por ele em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura.
"O presidente falou aquilo que é verdade: não existem provas contra mim", afirmou. Ao chegar ao plenário da Casa, Dirceu saiu em defesa de Lula e atacou a oposição, com o argumento de que o PSDB e o PFL têm "violado" as regras de convivência política para desestabilizar o governo.
"Acredito que o Brasil julgará também a oposição, e não só o governo, nas eleições de 2006", disse o deputado do PT de São Paulo. "Vamos combater a corrupção, apurar as denúncias, acabar com o caixa dois? Vamos.
Agora, vamos inviabilizar o País trabalhar pela instabilidade do governo, propor o impeachment do presidente só com objetivo eleitoral, só para lutar pelo poder?", perguntou, em tom de indignação. "Nós temos um presidente no comando do País e governando muito bem."
Sem citar nomes, Dirceu mencionou os últimos episódios protagonizados pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), e pelo deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA)- que ameaçaram dar uma "surra" no presidente para defender a família – como exemplos de comportamentos inaceitáveis por parte da oposição. Informado sobre a críticas de tucanos e pefelistas à entrevista de Lula, Dirceu voltou a defendê-lo.
"É até um insulto à inteligência dos cidadão que a oposição – depois de dizer que vai surrar o presidente e que ele é bandidão – afirme agora que a entrevista acirra a disputa política. O que está acontecendo no País é a violação de toda e qualquer regra mínima de civilidade e convivência política por parte da oposição", insistiu.
Dirceu argumentou que o presidente e o PT têm agido com cautela para não agravar a crise. "O que se espera é que não joguemos a criança fora junto com a água", afirmou. "Não se pode aceitar que, a partir de denúncias de corrupção em um ou outro órgão público, se queira taxar o governo de corrupto."
No salão verde da Câmara, o ex-chefe da Casa Civil repetiu o que dissera momentos antes em reunião reservada com oito deputados da esquerda do PT: tanto as comissões parlamentares de inquérito (CPIs) como o Ministério Público (MP) a Justiça e a Polícia Federal (PF) investigam o que ocorreu no partido e no governo nas campanhas eleitorais.
"O que não se pode aceitar é que, a partir destes fatos, inicie-se uma tentativa de desestabilizar o governo e inviabilizar os projetos que o Palácio do Planalto manda para o Congresso", observou.
Bem-humorado, o deputado afirmou que o cenário na Câmara "não está tão ruim" para ele. Embora diga em conversas privadas ter consciência de que será cassado, Dirceu procurou demonstrar confiança e amenizar a declaração de Lula. "Existe um senso comum de que vou ser cassado, mas o que está se tratando é de um banimento político. Eu não peço para que não investiguem a minha vida. Só peço que se faça justiça."
Dirceu afirmou ainda que os inúmeros recursos à Justiça não têm o objetivo de postergar o julgamento, que deverá ocorrer no plenário da Câmara no dia 23. "Não é minha intenção fazer chicana", disse. "Mas desafio alguém a provar minha culpa."