Brasília – Há um comentário em Brasília que o veterano senador José Sarney (PMDB-AP) ouve, sorri e não espicha. Este comentário que corre a capital brasileira revela que Sarney manda mais no governo Lula, hoje, que no tempo em que foi presidente da República, nos anos 80. E vai continuar mandando, apesar de, no dia 14 de fevereiro, Sarney, ao que tudo indica, entregar a presidência do Senado a Renan Calheiros.
Vai perder o cargo, mas não poder. Aos 74 anos de idade, 50 deles na política, Sarney é o mais antigo parlamentar do país. Ex-deputado, ex-governador e ex-presidente, mantém sólida influência na vida nacional. É o principal interlocutor do presidente Lula no Congresso. Conta com aliados em cargos federais estratégicos. A filha, Roseana Sarney, deve ocupar uma vaga no Ministério. Sarney jura que gostaria de se dedicar mais à literatura e que não sabe mandar. E chama de intriga o rumor de que teria mais poder no governo Lula do que teve no seu próprio: "Nunca mandei nem procurei mandar".
Qual o segredo da longevidade política? O senador responde, com seu jeito tranqüilo: "Deus me deu a graça de uma vida longa e, como sou político, essa vida longa me manteve até hoje na política. Quando entrei para a Academia Brasileira de Letras, disse que a política só tinha uma porta, a de entrada. Continuo na política, mas não tenho uma boa convivência com o poder. Nunca me deu o sentimento de plenitude que me dá a literatura."
Sobre a longevidade no poder, ele procura despistar: "A grande coisa que dizem que o poder tem é mandar. E eu não sei mandar". Sobre o tempo em que foi presidente, não mandava: "Não, eu coordenava o governo". A maior alegria de Sarney na política foi no dia em que foi eleito governador do Maranhão. "Tinha 35 anos. Todo político tem desejo de governar seu Estado. É o cargo mais ambicionado e o que mais realiza."
Ele explica porque o Estado é mais importamte que o Planalto: "No Estado, você está vendo as coisas acontecerem. Na Presidência, está desejando que as coisas aconteçam. Governei num período de extrema dificuldade. Assumi sem que o Ministério fosse meu, sem que as pessoas fossem escolhidas por mim. Não conhecia o programa de governo, não sabia as articulações feitas pelo nosso grande Tancredo Neves".
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