Brasília – PT e PMDB fizeram um pacto de estratégia política para as futuras eleições, diz o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), confirmando ainda, no plural, a participação do partido em ministérios do governo Lula. O autor de “O dono do mar” é agora também dono do PMDB. Tudo no partido passa por ele, inclusive o apoio maciço que o PMDB deu a Lula na votação da reforma tributária. “Nem no meu governo o PMDB votou tão unido”, diz o ex-presidente da República, em sua casa de Brasília, ainda comemorando o resultado da votação da reforma tributária.
Mas, embora votem unidos nas reformas constitucionais no Congresso, alguns outros aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverão estar em palanques distintos nas disputas pelas prefeituras das principais capitais nas eleições do ano que vem. Depois das reformas, as eleições municipais podem ser o grande teste da base governista. O PT, segundo o seu presidente, José Genoino, vai lançar candidatos em todas as cidades em que tiver um nome viável. “Onde tivermos um bom nome, teremos candidato”, afirma Genoino.
Ocorre que os dirigentes dos partidos aliados também pretendem disputar o comando dos principais municípios. Em capitais, de Norte ao Sul do país, os aliados do governo estarão em palanques diferentes. No Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte, em Belém, em Recife, em Fortaleza, em Porto Alegre e Curitiba, os integrantes da base de Lula devem estar separados.
Candidatos
O PSB, por exemplo, pretende ter candidatos no Rio (o partido conta com a filiação do ex-deputado Vladimir Palmeira), em São Paulo, lançando a ex-prefeita Luíza Erundina, e em Belo Horizonte, disputando com o ex-deputado João Leite. Em Recife, o líder do PSB na Câmara, Eduardo Campos, um dos mais atuantes governistas, pode ser candidato contra o prefeito petista João Paulo. “Estão me pressionando para que eu concorra. Não sei se escapo”, brinca o pernambucano.
Partidos definem “regras de conduta”
Brasília
– Por enquanto, os comandantes da base governista acham natural lançar candidatos distintos em muitos municípios, mas já estão sendo criadas regras de convivência para não azedar as relações entre eles depois da campanha. “Vamos assistir a uma disputa, não a uma guerra. Mas vamos administrar isso. Devemos conduzir a campanha como uma eleição municipal. Os temas são locais e não vamos criar uma crise”, diz o presidente do PT, José Genoino. “Tem lugares em que a convivência é difícil. Teremos de administrar isso”, diz o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).Além de Erundina, em São Paulo, a prefeita Marta Suplicy vai ter de brigar pela sua reeleição com um candidato do aliado PTB, que poderá ser o deputado Luiz Antônio Fleury ou Ricardo Izar, e outro do PL, que também pretende ter candidato. Mas na capital paulista pode valer o acordo entre PT e PMDB e o partido pode indicar o vice da chapa de Marta.
Mas ela não deve escapar da disputa com o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, que ingressou no PDT. “Temos que mostrar nossa marca e eleger o maior número possível de vereadores”, diz o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), acrescentando: “A aliança pela governabilidade não tem nada a ver com eleição municipal. Vamos fazer alianças com o PFL e o PSDB”, disse. Em Belém, o senador Duciomar Gomes da Costa, recém-filiado ao PTB, enfrentará o PT do prefeito Edmilson Rodrigues.
Em Porto Alegre, que já é governada há quatro administrações pelo partido, os petistas vão enfrentar pelo menos dois aliados no plano federal: o vice-líder do governo Beto Albuquerque (PSB-RS) e o ex-senador José Fogaça, que está no PPS. Para justificar a sua disposição de disputar com os petistas, Beto Albuquerque lembra o exemplo de São Luiz Gonzaga, cidade natal do ministro Olívio Dutra, em que o prefeito do PSB tem o PT como principal opositor. “Não tem piloto automático na eleição municipal. Tenho defendido que lancemos candidatos em todas as capitais. Se insistirem na reprodução da aliança, a base implode”, adverte Beto.
O raciocínio é repetido no PPS: “Tenho a impressão de que temos de ter candidatos por extinto de sobrevivência. Como fazemos parte da base, até como forma de mantermos nossa identidade, é preciso buscar alianças. E vamos fazer isso com o PSDB. Se não, corremos o risco de virar uma sublegenda do PT”, diz o líder interino do PPS na Câmara, Nelson Proença (RS).