Brasília – A crise política deflagrada pelas denúncias contra o ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz pode ter consolidado o sonho da re-eleição dos presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
A atuação de ambos no socorro ao governo no Congresso afastou as dúvidas que a tese da reeleição ainda suscitava. Mas antes de encampar a aprovação dessa proposta no Congresso, o Palácio do Planalto terá de administrar as resistências do próprio PT e encontrar uma compensação para o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), que contava suceder a Sarney.
O destino de Renan poderá ser a liderança do governo no Senado, no lugar de Aloizio Mercadante (PT-SP), ou uma vaga no ministério. Os dois cenários já começaram a ser analisados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderia aproveitar a substituição de Anderson Adauto por Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes – marcada para o próximo dia 15 – para anunciar mais mudanças em sua equipe. Prevalecendo a primeira hipótese, cogita-se a possibilidade de Mercadante assumir o Ministério da Saúde no lugar de Humberto Costa, cujo desempenho não estaria agradando ao presidente.
Mesmo sendo reconhecido como o melhor quadro da bancada petista no Senado, os colegas consideram que Mercadante não conseguirá se manter por muito mais tempo na liderança do governo, sobretudo depois de sua atuação na operação para barrar as CPIs dos bingos e do caso Waldomiro.
Na semana passada, por exemplo, o líder do PMDB teve de assumir as negociações com a base para convencer os líderes dos partidos aliados a não indicarem representantes para a instalação da CPI dos bingos, enquanto Mercadante admitia a hipótese de o governo administrar as investigações porque teria maioria na comissão.
A equação da reeleição depende ainda de o governo convencer as bancadas do PT na Câmara e no Senado a aprovarem a proposta de emenda constitucional necessária para viabilizar a idéia. Há quatro meses, os senadores petistas decidiram por unanimidade que não apoiariam a proposta.
A nova líder do partido, senadora Ideli Salvatti (SC), acredita que será difícil mudar essa decisão. Mas seu antecessor Tião Viana (AC) admite que a tese da reeleição ganhou força.
“Sarney tem o processo sucessório nas mãos e só não aprova a emenda da reeleição se não quiser. João Paulo deverá pegar carona pela maneira equilibrada e leal como agiu desde a divulgação das denúncias contra Waldomiro”, observou Tião Viana.
Na próxima semana, João Paulo pretende instalar a comissão especial que analisará o mérito da emenda constitucional que autoriza a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado. A relatoria deverá ficar com o PT e nome sugerido é o do vice-líder do governo, professor Luizinho (SP).
A presidência da comissão caberá ao PMDB, que promete apresentar emenda sugerindo que um parlamentar só possa disputar a reeleição uma única vez, estando ou não na mesma legislatura. Isso para garantir que ninguém fique mais de quatro anos seguidos no cargo. Atualmente a reeleição é permitida, mas não na mesma sessão legislativa. “O governo não tem e nem pode ter opinião sobre esse tema”, desconversa Luizinho.
PMDB facilita projeto de senador
Brasília
– O resultado da convenção nacional do PMDB, marcada para o dia 14, será decisiva para a definição dos rumos do partido no governo e no cenário político. Com a provável recondução do deputado Michel Temer (SP) para o comando nacional estará aberto o caminho para a reeleição do senador José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado.Mas, para isso, será preciso aprovar uma emenda constitucional, já em tramitação na Câmara, permitindo a reeleição dos presidentes da Câmara e Senado em uma mesma legislatura. O PMDB já está preparando uma emenda estabelecendo que a reeleição só acontecerá uma vez, independentemente da legislatura (período de quatro anos que coincide com o mandato dos deputados), a exemplo do que é permitido para o presidente da República. Resolvida a situação de Temer e Sarney, ficará pendente o destino do senador Renan Calheiros (AL), líder do partido no Senado.
Esta semana, Renan ensaiou um movimento com o objetivo de lançar a candidatura de Sarney para o comando do PMDB, mas a investida foi frustrada. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que continua atuando nas articulações políticas do governo, entrou em campo para brecar a operação que provocaria, por outro lado, uma desarticulação total do PMDB na Câmara. Alertado, o deputado Michel Temer reagiu imediatamente à operação e vetou a proposta dos senadores que queriam o adiamento, por 30 dias, da convenção.
A idéia dos partidários do adiamento era ganhar tempo para articularem em favor do nome de Sarney que, por sua vez, não queria a disputa.