Araçatuba – Cidadãos de diversas cidades do interior de São Paulo organizam-se para tentar impedir a prática de nepotismo pelos políticos locais. Eleitores de Araçatuba, Ourinhos, Birigüi, Presidente Prudente, Presidente Venceslau e outros municípios vão às ruas para tentar convencer a população – e, principalmente, os políticos – de que a contratação de parentes para cargos públicos de confiança, além de ser uma prática "imoral", é prejudicial à cidade. Em alguns casos, as contratações param na Justiça.
A contratação de familiares tornou-se comum nos municípios do interior, onde não raro, prefeitos e vereadores têm mulher e filhos como assessores diretos. É o que acontece, por exemplo, em Araçatuba, onde foi criada a Rede de Cidadania, uma organização não-governamental (ONG) que iniciou nesse fim de semana a coleta de 6.300 assinaturas para forçar a Câmara Municipal a votar um projeto lei proibindo o nepotismo.
A experiência é muito usual tanto na prefeitura como na Câmara araçatubense. Dos 12 vereadores, nove têm parentes empregados. A vereadora Marly Garcia Garcia Souto (PMN) contratou marido, filho e sobrinho; o vereador Marcelo Andorfato (PSB) empregou a mulher e dois sobrinhos. Marly e Andorfato foram eleitos pela primeira vez. O mesmo exemplo segue o prefeito Maluly Netto (PFL), que empregou a primeira-dama e dois dos três filhos para cargos no alto escalão.
A Rede de Cidadania pôs 80 colaboradores na rua para coletar adesões. Somente no sábado e anteontem, coletaram 650 assinaturas. A coleta vai até o próximo domingo, quando o representantes da ONG esperam ter alcançado o número suficiente para propor um projeto popular e obrigar a Casa a votar a lei antinepotismo.
Para Maluly Netto, os parentes provaram ter competência para ocupar os cargos aos quais foram nomeados. Segundo ele, a reivindicação feita pela Rede tem por trás interesses políticos nas eleições para deputado em 2006. De acordo com Maluly Netto, quem pede o projeto antinepotismo foi adepto do hábito que critica agora.
Em Birigüi, o Grupo de Acompanhamento do Legislativo (Galbi) recolheu 3 mil assinaturas, mas não conseguiu convencer o Legislativo a aprovar a proposta. Os vereadores rejeitaram a idéia porque os autores do plano, concebido em 2004, não foram reeleitos. Luiz Fernando Escodeiro, do Galbi, disse que um dos vereadores reeleitos reapresentará o texto. "Precisamos acabar com o nepotismo, que é uma praga na nossa cidade." A coleta de assinaturas não serviu para sensibilizar o advogado Ari da Silva Povoa, de Ourinhos, que proporá uma ação na Justiça contra a contratação de auxiliares pela Câmara Municipal. "O que vemos é pouca vergonha. Eles estão contratando 11 assessores, um para cada vereador, sem exigir escolaridade e qualificação, para beneficiar os parentes dos vereadores, que é quem estão mesmo sendo contratados", diz.
Conforme Povoa, o processo será proposto por meio da Associação de Defesa da Cidadania de Ourinhos (Adeco), uma ONG fundada por cidadãos insatisfeitos com os atos "imorais" cometidos pelos políticos.