A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo conseguiu, no primeiro trimestre de 2016, fechar a operação no azul depois de dois anos com as contas no vermelho. O número não inclui o balanço financeiro, que engloba as dívidas da instituição, mas indica que, após a pior crise da sua história, a entidade filantrópica encerrou um período gastando menos do que recebe, o que não acontecia desde 2013.

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Entre janeiro e março deste ano, a Santa Casa acumulou saldo positivo de R$ 8,7 milhões. Nos anos de 2014 e 2015, a operação havia fechado com rombo de R$ 56,5 milhões e R$ 75,6 milhões, respectivamente. O último resultado operacional positivo, em 2013, havia sido de cerca de R$ 19,6 milhões.

O corte de 12% na folha de pagamento, com a demissão de mais de mil funcionários, a revisão de contratos e o ganho de produtividade no Hospital Santa Isabel, que atende pela rede privada, são algumas das razões apontadas pelo superintendente da Santa Casa, José Carlos Villela, para o êxito. “A fotografia do balanço ainda é feia, por causa das dívidas, mas já há indicativo de melhoria. Fizemos o necessário, mas ainda não é suficiente”, diz.

O resultado ocorre após troca de gestão na entidade. Em junho do ano passado, tomava posse como provedor o pediatra José Luiz Setúbal, em substituição ao advogado Kalil Rocha Abdalla, que renunciou ao cargo e é investigado pelo Ministério Público Estadual por falhas na gestão. Nos seis anos em que Abdalla esteve à frente da Santa Casa, a dívida da entidade chegou a mais de R$ 800 milhões. Ele nega qualquer irregularidade na administração.

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Por causa do débito milionário, a situação no maior hospital filantrópico da América Latina ainda é preocupante, segundo Setúbal. “A gente fez a reestruturação da administração. Demos um jeito na máquina sem afetar muito o atendimento. Mas como a dívida é muito grande, a situação ainda é crítica. Demos o azar de pegar essa turbulência política e econômica no País, que atrapalha a renegociação da dívida e coloca em risco a sobrevivência da Santa Casa”, disse o provedor.

Desde outubro, a instituição vem negociando com a Caixa Econômica Federal e com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o empréstimo de R$ 360 milhões para honrar compromissos com fornecedores e diminuir o peso dos débitos bancários. “Esperávamos a aprovação do empréstimo em abril e o dinheiro liberado em agosto. Mas, com a troca de governo, tudo deve atrasar”, diz Setúbal.

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De imediato, diz o provedor, a entidade precisa de R$ 20 milhões para operar enquanto o empréstimo não é aprovado. Com o corte de 10% no repasse estadual por causa da crise e a instabilidade no cenário federal, a instituição aposta na venda de imóveis para levantar o dinheiro. Mas nem essa alternativa tem se mostrado um caminho fácil. “Fizemos um leilão de 25 imóveis em dezembro, mas não tivemos nenhum lance. Com a crise, o mercado está muito com o pé atrás”, afirmou Villela.

Somados, os imóveis que seriam leiloados são avaliados em cerca de R$ 60 milhões e a estimativa da provedoria era conseguir pelo menos R$ 15 milhões no leilão realizado no ano passado. Sem nenhum lance, um novo leilão deverá ser realizado em breve. “Se não conseguir esse dinheiro, não consigo pagar os fornecedores. E sem material médico, teríamos de interromper os atendimentos”, diz o provedor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.