Brasília – O governo admite negociar o ponto mais polêmico da reforma da Previdência: a taxação dos servidores públicos aposentados que ganham mais de R$ 1.058,00. A possibilidade foi revelada ontem durante conversa entre o senador Paulo Paim (PT-RS) e o presidente nacional do PT, José Genoíno. Na tentativa de isolar o movimento dos radicais petistas, Genoíno procurou Paim no gabinete dele e avisou que a cobrança previdenciária dos inativos não é imutável.
Horas antes da conversa com o presidente do PT, Paim participara de reunião da Frente Parlamentar e de Entidades em Defesa da Previdência Pública. Apesar de sempre defender o diálogo com o governo, fez várias críticas à proposta enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que votaria contra a taxação. Falou na necessidade de “atos públicos” para forçar o governo a mudar o projeto.
Depois do encontro com Genoíno, estava mais ameno. “Vamos construir uma saída negociada e, conseqüentemente, não votaremos mais contra”, afirmou o senador. No tête-à-tête, Genoíno disse a Paim que Lula só incluiu a questão dos inativos no projeto de reforma por pressão dos governadores. Agora, se a aprovação da emenda ficar emperrada por causa deste item, uma das alternativas é empurrar a questão para os estados.
Negociação
Se isso ocorrer, o texto do Planalto será modificado para autorizar os governadores a enviarem às respectivas assembléias legislativas projetos de emenda constitucional com proposta de taxação dos servidores aposentados – cada estado arcaria com o ônus de fazer a cobrança previdenciária.
Nos corredores do Congresso, a taxação dos inativos é comparada à história do “bode” que na última hora é tirado da sala. “Se nós estamos no mesmo barco, vamos buscar as melhores saídas para o governo”, disse Genoíno. O presidente do PT negou que, ao bater à porta do gabinete de Paim tivesse a intenção de enquadrá-lo.
“Aqui não existe nem rolo compressor nem enquadramento”, bradou.
Diante dos microfones, Genoíno também não quis dar detalhes de como deve ser conduzida a negociação sobre a cobrança previdenciária dos inativos. Disse apenas que Paim procurará o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, na próxima semana.