Rondeau aguarda veredicto de Lula

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Silas Rondeau, observado por Lula, ficou o tempo todo de cabeça baixa em Assunção.

Assunção – Atingido pela Operação Navalha, da Polícia Federal, o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, passou o dia de ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Paraguai. Logo pela manhã, Lula chamou o ministro à suíte do Hotel Sheraton, onde estava hospedado, em Assunção, para ouvi-lo sobre a denúncia de participação na máfia das obras públicas. Numa conversa tensa, segundo fontes do governo, Lula demonstrou irritação e disse palavras duras. Na noite anterior, o presidente assistiu a uma gravação da Polícia Federal mostrando que o esquema da máfia havia chegado ao gabinete de Rondeau.

Assessores do governo viram Rondeau sair da suíte com a cabeça baixa e os olhos marejados. Já Lula era apenas sorrisos durante a estada em Assunção. O ministro, que tentou ser a estrela da viagem do presidente – que foi ao Paraguai ouvir pedidos de aumento de preços da energia de Itaipu – viveu uma situação difícil, sendo confortado em alguns momentos por colegas da comitiva.

Rondeau não escondeu a tristeza. Com voz embargada, ele disse enfrentar um prejulgamento ?horrível?. ?Não posso aceitar isso, tenho uma história e uma biografia a zelar?, reclamou. Até poucas horas antes de deixar Assunção rumo ao Brasil, ele dizia rejeitar a possibilidade sair do governo. ?Acho esse processo extremamente nocivo e cabe realmente a todo ritual da Justiça confirmar e esclarecer isso?, afirmou. ?Eu desconheço essas denúncias, no Brasil vou poder tratar melhor desse assunto.?

O ministro disse estar indignado com as suspeitas levantadas pela Polícia Federal contra ele. ?Isso é muito ruim, causa uma indignação, porque esse prejulgamento é uma coisa horrível?, afirmou. Rondeau ainda passou pelo constrangimento de ser o alvo da pergunta que a imprensa brasileira teve direito de fazer na coletiva de Lula e do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, no palácio do governo. ?Aprendi com o ex-presidente da França Jacques Chirac, a gente só deve tratar de assuntos internos no próprio país?, disse Lula, evitando comentar o assunto.

Enquanto Silas permanecia de cabeça baixa, Lula demonstrava descontração e bom humor. O ministro deixou o palácio tenso, cercado de repórteres. Já o presidente saiu do local cantando um bolero. ?Solamente una vez y nada más?, cantou Lula. ?Una vez nada más se entrega (el alma)?… Quando deixou Assunção, num último contato com jornalistas, o presidente prometeu: ?Em Itaipu eu falo?. A expectativa, porém, é que o presidente só dê um veredicto sobre o ministro suspeito quando tiver retornado para Brasília.

A assessoria do Ministério divulgou nota rebatendo as acusações da Polícia Federal de que a pasta estaria envolvida em supostas fraudes em licitações para a realização de obras do programa Luz para Todos. ?O Ministério de Minas e Energia não realiza as licitações, não define os preços dos serviços nem as contratações dos agentes para execução das obras do programa, assim como não é o responsável pela liberação dos recursos?, diz a nota. O documento afirma também que quem define os programas de obras do Luz para Todos são as empresas concessionárias e permissionárias de distribuição de energia que operam nos estados.

STJ manda soltar mais 4 suspeitos

Brasília (AE) – Mais quatro presos na Operação Navalha ganharam a liberdade ontem, por decisão da ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon, que comanda o inquérito. Foi decretado o relaxamento da prisão preventiva do filho do ex-governador de Sergipe João Alves Filho, João Alves Neto; do funcionário do governo do Maranhão, Geraldo Magela Fernandes da Rocha; do ex-secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Sinop (MT), Jair Pessine, e do prefeito da cidade mato-grossense, Nilson Aparecido Leitão.

Os quatro são apontados pela Polícia Federal como integrantes do esquema de recebimento de propina em troca de benefícios à construtora Gautama na disputa por obras públicas. Eles estavam presos desde a última quinta-feira, quando a operação foi deflagrada, e foram soltos depois de prestar depoimento na sede do STJ.

Até o fechamento desta edição, nove dos 47 presos na Operação Navalha já estavam soltos. Houve um 48.º pedido de prisão, do ex-procurador-geral do Maranhão Ulisses César Martins de Souza, mas ele não chegou a ser preso.

Além dos quatro soltos ontem, estão em liberdade o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares; o ex-deputado federal José Ivan Paixão, de Sergipe; o ex-presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), Roberto Figueiredo Guimarães; o secretário de Infra-Estrutura do Maranhão, Ney Barros Bello, e o ex-chefe da Casa Civil do governo de Sergipe, Flávio Conceição de Oliveira Neto. José Reinaldo, Roberto Guimarães e Ulisses Souza foram beneficiados por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Os demais foram soltos por decisão do STJ.

Como o inquérito é mantido sob segredo de Justiça, os depoimentos acontecem a portas fechadas. Todos estão sendo ouvidos na condição de investigados. Para que se torne um processo, é preciso que o Ministério Público Federal acate a denúncia.

No STF, mais 20 pedidos de habeas corpus

Brasília (ABr) – Vinte acusados de desvio de recursos para obras públicas investigados pela Operação Navalha, da Polícia Federal, aguardam julgamento de pedidos de habeas corpus, para revogação de suas prisões preventivas. O relator das ações é o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Das 25 solicitações recebidas, o ministro já analisou cinco. Concedeu três (Ulisses César Martins de Sousa, ex-procurador-geral do Maranhão; José Reinaldo Carneiro Tavares, ex-governador do Maranhão, e Roberto Figueiredo Guimarães, presidente do Banco de Brasília (BRB) e negou dois (Geraldo Magela Fernandes da Rocha [ex-assessor de Carneiro Tavares], que obteve habeas corpus no STJ, e Sérgio Luiz Pompeu Sá, assessor do Ministério de Minas e Energia).

O relator também negou oito pedidos de extensão da liminar concedida em favor de Martins de Souza. Ainda aguarda análise a solicitação de Jorge Targa Juni, presidente da Companhia Energética do Piauí. O STF pode receber novos pedidos a qualquer momento.

Ex-assessor queima provas e é flagrado

Brasília (AE) – A Polícia Federal realizou ontem mais uma diligência dentro da Operação Navalha. Foi na casa de um ex-assessor do deputado distrital Pedro Passos (PMDB), chamado Adão. Ele foi flagrado queimando documentos de interesse da investigação, na churrasqueira de sua residência, que fica no Condomínio Lago Sul em Brasília.

Funcionário da Secretaria de Agricultura do Distrito Federal (DF), Adão foi assessor de Passos quando este era secretário de Agricultura, no governo do hoje senador Joaquim Roriz (PMDB). A Polícia Federal chegou à casa de Adão com base em denúncia anônima encaminhada ao Departamento de Inteligência da PF.

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